Conversas sobre o Silêncio
Tradução livre de excertos de uma longa entrevista com Philip Groening, o autor de “O Grande Silêncio”.
“Na cela de um monge não entra ninguém. Só o abade e o mestre dos noviços. Mais ninguém – eles não se visitam nas celas. É um quarto muito íntimo. Filmar alguém nesse quarto íntimo, enquanto reza, contraria a solidão. É completamente impossível, uma intrusão dessas, seria o caso clássico de destruir o que se quer captar, precisamente ao tentar filmá-lo.”
(…)
Philip Groening: A edição foi um pesadelo. Ainda estou a recuperar. Foram dois anos e meio, sem interrupções, para encontrar aquela estrutura – em que o filme nos transforma e as coisas acontecem, como por exemplo desatar a chorar ao ver certos objectos. Sabia que era aí que queria chegar. Mas nunca tinha visto um filme que o conseguisse. Por isso não havia qualquer exemplo a seguir. Cada vez que eu e o meu editor conselheiro aplicávamos regras racionais... o filme desmoronava-se.
Angela Zito: Que tipo de regras?
PG: Por exemplo, porque não mostrar os monges africanos a entrar na ordem mais cedo? Ou quando deve aparecer cada legenda? Numa versão antes da Bienal de Veneza, uma legenda a explicar que os Cistercienses são muito rigorosos, que eu tinha pedido autorização em ’84, mas que só me tinham respondido em 99, foi colocado no início, e destruiu completamente o filme.
AZ: Porquê?
PG: Toda a gente sabe que é um documentário, e que é sobre um mosteiro. Toda a gente sabe que num documentário, recebe-se informação. Se dermos um bocado de informação a mais, se adicionarmos uma imagem a mostrar o que realmente acontece quando recebem um noviço, está-se a alimentar esse desejo – aliás, essa certeza – do espectador. Depois de lhe mostrar aquela legenda ele pensa “Bom, isto é um documentário, ele está a jogar um jogo. Passaram 20 minutos, ainda não há mais informação, mas ele há-de me dar mais informação.” Só que essa “informação” nunca chega, e o filme desmorona. Foi tão difícil!
(...)
PG: Eles são famosos por causa do licor, mas para eles não tem grande importância. Para o DVD incluí uma peça adicional sobre o fabrico do licor. Tem muita piada, porque pergunto ao monge encarregue: “Qual o significado do licor para si”. Ele pensa e responde “Uh, a importância do licor para nós...? Hmmm, bom, é o que nos dá o dinheiro de que precisamos.”
Uma viagem que vale bem a pena empreender, especialmente para quem já viu o documentário em questão.
Filipe d'Avillez
http://www.snpcultura.org/impressao_digital_o_grande_silencio_trailer.html
http://www.snpcultura.org/entrada.html
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