Terra, Mãos e Fogo
A fotografia ao serviço das obras de arte (II) - Cerâmica
Apresentação Conteúdos Ficha Técnica
Junto a minha mão à tua …
Há cerca de sete mil anos, talvez por acaso, algum homem observou a acção exercida pelo fogo em certo tipo de argilas, endurecendo-as permanentemente. O acaso só é útil a quem o merece, a quem possui a capacidade de ver um novo fenómeno e imaginar, criar algo de novo. Quer tenha sido para uso imediato de novos utensílios, pelo gosto do ornamento ou na representação mágica e religiosa, desde então criámos infinito número de formas e de cores, em todos os cantos do planeta onde vivemos. De então para cá, mergulhamos as mãos na terra, com as mãos a trabalhamos e moldamos, e pelo fogo damos a divina vida a tanto do nosso património e memória: a cerâmica
O desenvolvimento da tecnologia para a produção desta matéria-prima, talvez a primeira, deve certamente ter proporcionado aos seres humanos de então um enorme estímulo e confiança nas suas possibilidades de adaptação à realidade em que viviam. E tão fascinantes eram os objectos novos, contraditoriamente tão frágeis, sempre prontos a quebrar, e tão resistentes que até suportam o fogo que os ajudou a nascer. Ninguém podia então imaginar como seriam duradouros, e como constituem por vezes a única informação que chegou até aos nossos dias de algumas culturas, dos seus rituais, da sua arte e do seu quotidiano.
Que sente um fotógrafo quando entra numa sala e enfrenta uma multidão de "cacos", para fotografar o que se produziu numa época de evolução? Não sei o que outros sentem, mas creio que não deixarão de experimentar uma grande angústia e também uma grande responsabilidade. Angústia pelo turbilhão das perguntas: por onde começar, como se orienta esta forma ou o resta dela, como respeitar em luz e sombra a leitura artística e também documental de espécies, tanto mais difíceis quanto mais pequenas. Responsabilidade pelo dever que nos carrega o conhecimento de que muitas dessas peças nunca foram fotografadas e tão cedo não o serão outra vez, sendo que a imagem por nós produzida passará a ser a identidade visual que estará à consulta de todos. Sobra o prazer, que sempre chega de surpresa, na forma que se revela, na cor que vibra, e frequentemente na marca gravada dos teus dedos, amigo. Confesso, já cedi à tentação de por os meus dedos nos sulcos dos teus, juntar a minha mão à tua, no aperto sem tempo do amigo eterno.
O inventário fotográfico do património cultural é hoje uma tarefa obrigatória para cada cultura, essencial para a segurança, o estudo e a divulgação da nossa mais preciosa herança. Embora nada possa substituir a presença física desse património, com tudo o que tem para revelar, ensinar e emocionar as gerações vindouras, na verdade a maior parte da nossa formação e cultura artística visual depende das fotografias de obras de arte ao nosso dispor.
Desde a sua criação, em 1991, o Instituto dos Museus e da Conservação – I.P. tem feito um extraordinário esforço de inventariação fotográfica das colecções dos Museus nacionais, e tem colaborado com outras entidades que o solicitam. A sua Divisão de Documentação Fotográfica possui hoje um vasto espólio de centenas de milhares de imagens que estão ao dispor de todos e têm ajudado a divulgar e a afirmar a importância do património cultural português no mundo.
Esta exposição dedicada à cerâmica, integrada no projecto de cinco sobre a Fotografia ao serviço do Património (pedra, cerâmica, madeira, metais e têxteis), foi concebida por critérios fotográficos, procurando dar uma mostra da extensão no tempo e na diversidade das culturas representadas pela cerâmica nos museus portugueses. Certamente com lacunas enormes e escolhas discutíveis, procura só ser um contributo que estimule a descoberta por todos vós do infinito mundo que tem passado em frente dos meus olhos assombrados.
José Pessoa
via
http://www.matrizpix.imc-ip.pt/matrizpix/Exposicoes/ExposicoesConsultar01.aspx?IDEXP=5
http://www.matrizpix.imc-ip.pt/matrizpix/Exposicoes/ExposicoesListar.aspx
http://www.matrizpix.imc-ip.pt/matrizpix/Apresentacao.aspx
http://www.matrizpix.imc-ip.pt/matrizpix/
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