sábado, 20 de novembro de 2010

London Symphony Orchestra




http://www.youtube.com/watch?v=oGyvl9McMGs&feature=player_embedded#!

Fernando Rodrigues Pereira Consultor de Comunicación Director General de Press-à-Porter Comunicação (Portugal)
"Antes de mais, quando lerem estas linhas saibam que estão a ler um texto de reflexão - que não nasce por iniciativa própria, mas porque me desafiaram a fazê-lo - de um não-especialista em economia e finanças. Sou apenas um português, europeu do sul, céptico mas produto de uma educação católica, da classe média trabalhadora e que paga impostos na esperança de receber algo em troca e talvez, um dia, ter uma reforma que ainda possa gozar.

Ontem, quando questionado pelo Financial Times sobre como Portugal pensava responder à crise em que está mergulhado, o Ministro Português da Finanças, Teixeira dos Santos, admitiu que “a probabilidade de Portugal pedir ajuda externa é elevada”. Há muito que a sombra do FMI paira sobre nós. A surpresa não foi assim tão grande. Aliás, já ca esteve, nos anos 70 e 80. Não foi um drama. Passados minutos, o mesmo Ministro, disse à Reuters, que a probabilidade existia, mas não era desejável e não existiam ainda contactos para que tal acontecesse. Coisas de políticos! Para já os mercados reagiram bem, mas amanhã, talvez reajam mal. De Bruxelas, ainda ninguém disse nada. Será que vai dizer? As agências de rating essas, na hora certa, dirão.

Esta crónica quando ma pediram serviria para reflectir sobre isto. De imediato, veio-me à cabeça uma viagem que fiz a Praga há uns meses. Aí tive a oportunidade de viver uma experiencia única, na famosa sala de concertos Rudolfinum. Comemoravam-se os 150 anos do nascimento de Gustav Mahler e a Filarmónica da Republica Checa, conduzida por Christoph Eschenbach, interpretou a 2ª Sinfonia de Mahler, a Ressurreição. No final, extasiado, só voltei a mim quando consegui falar, com quem me acompanhava, sobre a forma como me senti esmagado pela contradição de sentimentos que vivi naqueles 90 minutos.

Apesar da origem judia, Mahler sentia fascínio pela liturgia cristã, principalmente pela crença na Ressurreição e Redenção. A Segunda Sinfonia propõe responder à pergunta: Por que se vive?. Simbolicamente, narra a derrota da morte e a redenção final do ser humano, após este ter passado por uma período de incertezas e agruras.

A origem de Mahler é importante, porque é diferente da minha. Porém, ao mesmo tempo é irrelevante, porque a origem não deve ser discriminatória. A Europa fez-se e deveria construir-se, dia a dia, com as suas diferenças. A visão judia é em muito semelhante à visão calvinista, protestante dos europeus do centro e norte. Porque não crêem absolutamente na “vida para além de…”, vivem rigidamente a ética do trabalho, que por sua vez legitima transparentemente o lucro. Só assim conseguiram criar a palavra accountability, que não existe na lusofonia, por exemplo.

Se, hoje, aquela experiência avassaladora se repetisse, depois ouvir a Ressurreição segundo Mahler, gostaria de descomprimir, novamente, a conversar sobre os 5 movimentos da sinfonia. Mas, desta vez, não com a minha mulher, mas com a Sr.ª Merkel. Para quê? Para, enquanto Português, me auto justificar e arranjar algumas desculpas e para que a Srª Merkel, no seu altar teutónico, me bombardear com argumentos frios e racionais.

O primeiro movimento é sobre a morte. Aqui falaríamos sobre o nosso nível de endividamento, sobre a nossa incapacidade de nos governarmos e sobre as sanções políticas e económicas que nos querem impor…

No segundo, a vida é relembrada. Eu diria que o directório dos ricos se impõe muitas vezes e que quer fazer uma Europa para servir os seus objectivos, ela diria que já está farta de nos ver desperdiçar fundos e de pagar pela nossa ingovernabilidade.

No terceiro, Mahler apresenta as dúvidas quanto à existência e ao destino. Aí eu diria que fomos enganados, que não entramos no euro, que fomos obrigados a aderir ao marco e agora é o que é: ficamos amarrados ou seremos expulsos. A Srª Merkel diria que nos deslumbramos e que não cumprimos. Ambos perguntaríamos se assim se constrói a Europa? Sem ser pretensioso, acho que ambos chegaremos à conclusão que não.

No quarto movimento o herói de Mahler readquire a sua fé e a esperança. O herói de Mahler tem que ser a Europa. A fé e a esperança readquire-se com a capacidade que os PIIGS – empresas, governos, cidadãos - terão em criar para os seus vocabulários e praxis, uma palavra semelhante a accontability, mas com um pouco de emoção lá dentro. Vai doer. Mas, por cá, nas ruas as pessoas sentem que a mais que provável do FMI estará já a ser preparada. A fé e a esperança readquire-se - e a Srª Merkel já percebeu que só existira União Europeia se houver Euro – se a Europa for realmente uma União Europeia. A esperança está numa fórmula, dolorosa, que não faça os cidadãos de Munique ou do Porto desacreditarem da ideia Europa dos cidadãos, em que cada uma tem as suas responsabilidades, deveres e direitos.

No quinto e último movimento ocorre a Ressurreição, sem ninguém temer o Dia do Juizo Final. E aí os PIIGS podem viver a sua Ressurreição e ser a ressurreição da Europa. São povos que sempre souberam resistir nos seus territórios e cresceram para o mar. Levaram a ideia de Europa – democracia, tolerância, diplomacia - pelo mundo fora e deram ao mundo e continuam a dar, novos mundos. Não apenas mercados. Nesta fase, a relevância da Europa, está muito para além da sua força económica.

A forma como todos passarmos por esta crise, vai permitir demonstrar que a Europa pode continuar a ser o Ocidente, a ser um Novo Ocidente que permita uma nova ordem mundial pacífica onde o mundo seja um local menos perigoso e mais próspero para todos."

via
http://www.euractiv.es/analisis/analisis=241

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