"Na véspera de não partir nunca Ao menos não há que arrumar malas Nem que fazer planos em papel... Todos os dias é véspera de não partir nunca" Álvaro de Campos
quinta-feira, 30 de junho de 2011
Os livros de Ana Sousa Dias. A inevitável guerra dos sexos. O debate na ...
Apresentação dos livros de Ana Sousa Dias "O que oshomens pensam das mulheres" e "O que as mulheres pensam doshomens". A inevitável guerra dos sexos. O debate na Fátima lopes.
Os livros de Ana Sousa Dias. A inevitável guerra dos sexos. O debate na ...
Apresentação dos livros de Ana Sousa Dias "O que oshomens pensam das mulheres" e "O que as mulheres pensam doshomens". A inevitável guerra dos sexos. O debate na Fátima lopes.
Parte II
Les feuilles mortes, Yves Montand
Oh! je voudrais tant que tu te souviennes
Des jours heureux où nous étions amis
En ce temps-là la vie était plus belle,
Et le soleil plus brûlant qu'aujourd'hui
Les feuilles mortes se ramassent à la pelle
Tu vois, je n'ai pas oublié...
Les feuilles mortes se ramassent à la pelle,
Les souvenirs et les regrets aussi
Et le vent du nord les emporte
Dans la nuit froide de l'oubli.
Tu vois, je n'ai pas oublié
La chanson que tu me chantais.
C'est une chanson qui nous ressemble
Toi, tu m'aimais et je t'aimais
Et nous vivions tous deux ensemble
Toi qui m'aimais, moi qui t'aimais
Mais la vie sépare ceux qui s'aiment
Tout doucement, sans faire de bruit
Et la mer efface sur le sable
Les pas des amants désunis.
Les feuilles mortes se ramassent à la pelle,
Les souvenirs et les regrets aussi
Mais mon amour silencieux et fidèle
Sourit toujours et remercie la vie
Je t'aimais tant, tu étais si jolie,
Comment veux-tu que je t'oublie?
En ce temps-là, la vie était plus belle
Et le soleil plus brûlant qu'aujourd'hui
Tu étais ma plus douce amie
Mais je n'ai que faire des regrets
Et la chanson que tu chantais
Toujours, toujours je l'entendrai!
C'est une chanson qui nous ressemble
Toi, tu m'aimais et je t'aimais
Et nous vivions tous deux ensemble
Toi qui m'aimais, moi qui t'aimais
Mais la vie sépare ceux qui s'aiment
Tout doucement, sans faire de bruit
Et la mer efface sur le sable
Les pas des amants désunis.
quarta-feira, 29 de junho de 2011
terça-feira, 28 de junho de 2011
(Parte 1) Alex Collier - Project Camelot (Los Angeles) 20 09 2009 - Lege...
https://www.youtube.com/watch?v=QbjqjMVqr8s&feature=player_embedded#at=39
segunda-feira, 27 de junho de 2011
Art Pepper Quartet 1957 ~ Fascinatin' Rhythm (Take 1)
https://www.youtube.com/watch?v=mM8cWAWKiY8&feature=player_embedded
domingo, 26 de junho de 2011
sexta-feira, 24 de junho de 2011
José Mário Branco - A Morte Nunca Existiu
A morte nunca existiu. Poema de António Joaquim Lança e música e voz de José Mário Branco.
quarta-feira, 22 de junho de 2011
Peter Gabriel - Solsbury Hill
Peter Gabriel, Solsbury Hill
http://recordacoescasamarela.blogspot.com/
Nem todas as margaridas são flores
http://pescadoradegirassois.blogspot.com/
http://educar.wordpress.com/
http://antero.wordpress.com/
Ao encontro das palavras
http://vanda51-emportugues.blogspot.com/
http://murmuriosdautopia.blogspot.com/?spref=fb
http://editora.cosacnaify.com.br/blog/?p=8477
A Vida Passa
"A Vida Passa" from sarah galahad on Vimeo.
poema | Miguel Torga
voz | Filipa Pais
direção Musical | Jorge Salgueiro
tema do espectáculo "Alma Grande"
Teatro o Bando
encenação | João Brites
http://vimeo.com/21372217
Uma aventura na noite
Uma aventura na noite (de Manuel da Silva Ramos)
"Acabara de rever “ A Aventura “ do Antonioni na Cinemateca uma das mais belas e estranhas histórias de amor da sétima arte como dizia o Le Clézio e, lançando todo o meu património inexistente para as urtigas, perdi-me na noite. Encontrei-me ( pens...ando sempre em Monica Vitti com os seus cabelos loiros olhando a estranheza da vida da janela de um comboio) num sítio estranho do Bairro Alto: a travessa das Bolas. Aí, à frente de um muro esquisito composto por bolas incrustadas num painel granítico, lá estava ela, de seios de fora, Hernia, a jovem vinda da Morávia e que falava só alguns picles de português. Aproximei-me e vi que a sua beleza era como um doce conventual, antiga e serena. - Gosto bravo de make amor com muribundos ! disse ela para me experimentar. A União Europeia pagava rios de dinheiro a jovens para eles através do programa Erasmus convidarem a convivialidade à mesa da curiosidade. Ma só a sexualidade era chamada e se apresentava quase sempre com o seu manto espesso e complicado de lontra. Levei-a nesse estado catatónico a uma mercearia da rua da Rosa ( aberta a essas horas tardias porque o dono acabava de morrer e entravam os cangalheiros ) e de uma prateleira retirei uma garrafa de azeite Gallo. Deixei o dinheiro no balcão e transitei com Hernia para uma transversal que ia dar à rua da Atalaia. À porta de uma lojeca que vendia preservativos de todos os tamanhos e feitios deitei o primeiro pingo desse azeite virginal e soberbo que é a glória do nosso país no seio direito da checa. Ela não deu um gritinho, só riu com esse riso alimentado desde a infância de cogumelos. Depois chupei-o com a ânsia de um homem que sempre viu filmes de cowboys na vida. A noite era nossa e depois de termos apostado forte e perdido numa banca portátil que uns africanos mantinham com um só baralho no miradouro de Santa Catarina descemos para a Bica. Neste bairro labiríntico fácil foi encontrar uma outra mercearia onde comprei um bocado de sabão Clarim. No fontanário público ela sentou-se na escadas comidas pelo tempo e eu de joelhos religiosamente lavei-lhe a conaça com os seus pêlos postados como índios esperando uma diligência. Ela ria agora como a trombeta que anuncia a chegada da sétima cavalaria para terminar a chacina. Beijei-a na boca molhada enquanto com um dedo esguio me assegurei que a sua vagina estava chuvosa. Levantámo-nos depois e começámos a subir a ladeira dos melhores sonhos de Lisboa e que nos ia instalar na linha imorredoura do eléctrico 28. Direcção sexo súbito. - Vulcano ! murmurou ela de repente. Não sei se ela invocava o vulcão da sua cona da Boémia com os seus cinco casos nominativos. Só sei que ela me pegou na mão, entrou num pequeno restaurante, fomos à cozinha, e aí ela levou os nossos dedos unidos à chama azul transparente. Queimámo-nos ligeiramente. Mas eu sabia que este gesto à beira da velha marca mundialmente conhecida era a união que nos faltava para sermos felizes em qualquer lado. Rejubilava interiormente. Perdi-a quando descíamos a Calçada do Combro. Eu fiquei para trás para ver o horário da biblioteca do Camões onde devia consultar um livro sobre cogumelos checos que crescem nas florestas da Morávia e gritando o seu nome ninguém me respondeu: Perguntei a várias pessoas que subiam se tinham visto uma estrangeira de seios à mostra mas as pessoas riram de mim... Fui a um bar do Poço dos Negros beber uma aguardente que não imitava a slivovice e regressei a casa de táxi. Consultei o relógio no banco fofo. Tinham passado noventa minutos desde que encontrara Hernia e a perdera para sempre. Era o tempo de um bom filme...Mas como eu não gosto de encontrar duas vezes as mesmas jovens perturbadas e anacronicamente felizes aqui fica também a palavra."
"Acabara de rever “ A Aventura “ do Antonioni na Cinemateca uma das mais belas e estranhas histórias de amor da sétima arte como dizia o Le Clézio e, lançando todo o meu património inexistente para as urtigas, perdi-me na noite. Encontrei-me ( pens...ando sempre em Monica Vitti com os seus cabelos loiros olhando a estranheza da vida da janela de um comboio) num sítio estranho do Bairro Alto: a travessa das Bolas. Aí, à frente de um muro esquisito composto por bolas incrustadas num painel granítico, lá estava ela, de seios de fora, Hernia, a jovem vinda da Morávia e que falava só alguns picles de português. Aproximei-me e vi que a sua beleza era como um doce conventual, antiga e serena. - Gosto bravo de make amor com muribundos ! disse ela para me experimentar. A União Europeia pagava rios de dinheiro a jovens para eles através do programa Erasmus convidarem a convivialidade à mesa da curiosidade. Ma só a sexualidade era chamada e se apresentava quase sempre com o seu manto espesso e complicado de lontra. Levei-a nesse estado catatónico a uma mercearia da rua da Rosa ( aberta a essas horas tardias porque o dono acabava de morrer e entravam os cangalheiros ) e de uma prateleira retirei uma garrafa de azeite Gallo. Deixei o dinheiro no balcão e transitei com Hernia para uma transversal que ia dar à rua da Atalaia. À porta de uma lojeca que vendia preservativos de todos os tamanhos e feitios deitei o primeiro pingo desse azeite virginal e soberbo que é a glória do nosso país no seio direito da checa. Ela não deu um gritinho, só riu com esse riso alimentado desde a infância de cogumelos. Depois chupei-o com a ânsia de um homem que sempre viu filmes de cowboys na vida. A noite era nossa e depois de termos apostado forte e perdido numa banca portátil que uns africanos mantinham com um só baralho no miradouro de Santa Catarina descemos para a Bica. Neste bairro labiríntico fácil foi encontrar uma outra mercearia onde comprei um bocado de sabão Clarim. No fontanário público ela sentou-se na escadas comidas pelo tempo e eu de joelhos religiosamente lavei-lhe a conaça com os seus pêlos postados como índios esperando uma diligência. Ela ria agora como a trombeta que anuncia a chegada da sétima cavalaria para terminar a chacina. Beijei-a na boca molhada enquanto com um dedo esguio me assegurei que a sua vagina estava chuvosa. Levantámo-nos depois e começámos a subir a ladeira dos melhores sonhos de Lisboa e que nos ia instalar na linha imorredoura do eléctrico 28. Direcção sexo súbito. - Vulcano ! murmurou ela de repente. Não sei se ela invocava o vulcão da sua cona da Boémia com os seus cinco casos nominativos. Só sei que ela me pegou na mão, entrou num pequeno restaurante, fomos à cozinha, e aí ela levou os nossos dedos unidos à chama azul transparente. Queimámo-nos ligeiramente. Mas eu sabia que este gesto à beira da velha marca mundialmente conhecida era a união que nos faltava para sermos felizes em qualquer lado. Rejubilava interiormente. Perdi-a quando descíamos a Calçada do Combro. Eu fiquei para trás para ver o horário da biblioteca do Camões onde devia consultar um livro sobre cogumelos checos que crescem nas florestas da Morávia e gritando o seu nome ninguém me respondeu: Perguntei a várias pessoas que subiam se tinham visto uma estrangeira de seios à mostra mas as pessoas riram de mim... Fui a um bar do Poço dos Negros beber uma aguardente que não imitava a slivovice e regressei a casa de táxi. Consultei o relógio no banco fofo. Tinham passado noventa minutos desde que encontrara Hernia e a perdera para sempre. Era o tempo de um bom filme...Mas como eu não gosto de encontrar duas vezes as mesmas jovens perturbadas e anacronicamente felizes aqui fica também a palavra."
O Engraxanço e o Culambismo Português
O Engraxanço e o Culambismo Português - Miguel Esteves Cardoso
Noto com desagrado que se tem desenvolvido muito em Portugal uma modalidade desportiva que julgara ter caído em desuso depois da revolução de Abril. Situa-se na área da ginástica corporal e envolve complexos exercícios contorcionistas em que cada jogador ...procura, por todos os meios ao seu alcance, correr e prostrar-se de forma a lamber o cu de um jogador mais poderoso do que ele. Este cu pode ser o cu de um superior hierárquico, de um ministro, de um agente da polícia ou de um artista. O objectivo do jogo é identificá-los, lambê-los e recolher os respectivos prémios. Os prémios podem ser em dinheiro, em promoção profissional ou em permuta. À medida que vai lambendo os cus, vai ascendendo ou descendendo na hierarquia. Antes do 25 de Abril esta modalidade era mais rudimentar. Era praticada por amadores, muitos em idade escolar, e conhecida prosaicamente com«engraxanço». Os chefes de repartição engraxavam os chefes de serviço, os alunos engraxavam os professores, os jornalistas engraxavam os ministros, as donas de casa engraxavam os médicos da caixa, etc... Mesmo assim, eram raros os portugueses com feitio para passar graxa. Havia poucos engraxadores. Diga-se porém, em abono da verdade, que os poucos que havia engraxavam imenso. Nesse tempo, «engraxar» era uma actividade socialmente menosprezada. O menino que engraxasse a professora tinha de enfrentar depois o escárnio da turma. O colunista que tecesse um grande elogio ao Presidente do Conselho era ostracizado pelos colegas. Ninguém gostava de um engraxador. Hoje tudo isso mudou. O engraxanço evoluiu ao ponto de tornar-se irreconhecível. Foi-se subindo na escala de subserviência, dos sapatos até ao cu. O engraxador foi promovido a lambe-botas e o lambe-botas a lambe-cu. Não é preciso realçar a diferença, em termos de subordinação hierárquica e flexibilidade de movimentos, entre engraxar uns sapatos e lamber um cu. Para fazer face à crescente popularidade do desporto, importaram-se dos Estados Unidos, campeão do mundo na modalidade, as regras e os estatutos da American Federation of Ass-licking and Brown-nosing. Os praticantes portugueses puderam assim esquecer os tempos amadores do engraxanço e aperfeiçoarem-se no desenvolvimento profissional do Culambismo. (...) Tudo isto teria graça se os culambistas portugueses fossem tão mal tratados e sucedidos como os engraxadores de outrora. O pior é que a nossa sociedade não só aceita o culambismo como forma prática de subir na vida, como começa a exigi-lo como habilitação profissional. O culambismo compensa. Sobreviver sem um mínimo de conhecimentos de culambismo é hoje tão difícil como vencer na vida sem saber falar inglês. .
Noto com desagrado que se tem desenvolvido muito em Portugal uma modalidade desportiva que julgara ter caído em desuso depois da revolução de Abril. Situa-se na área da ginástica corporal e envolve complexos exercícios contorcionistas em que cada jogador ...procura, por todos os meios ao seu alcance, correr e prostrar-se de forma a lamber o cu de um jogador mais poderoso do que ele. Este cu pode ser o cu de um superior hierárquico, de um ministro, de um agente da polícia ou de um artista. O objectivo do jogo é identificá-los, lambê-los e recolher os respectivos prémios. Os prémios podem ser em dinheiro, em promoção profissional ou em permuta. À medida que vai lambendo os cus, vai ascendendo ou descendendo na hierarquia. Antes do 25 de Abril esta modalidade era mais rudimentar. Era praticada por amadores, muitos em idade escolar, e conhecida prosaicamente com«engraxanço». Os chefes de repartição engraxavam os chefes de serviço, os alunos engraxavam os professores, os jornalistas engraxavam os ministros, as donas de casa engraxavam os médicos da caixa, etc... Mesmo assim, eram raros os portugueses com feitio para passar graxa. Havia poucos engraxadores. Diga-se porém, em abono da verdade, que os poucos que havia engraxavam imenso. Nesse tempo, «engraxar» era uma actividade socialmente menosprezada. O menino que engraxasse a professora tinha de enfrentar depois o escárnio da turma. O colunista que tecesse um grande elogio ao Presidente do Conselho era ostracizado pelos colegas. Ninguém gostava de um engraxador. Hoje tudo isso mudou. O engraxanço evoluiu ao ponto de tornar-se irreconhecível. Foi-se subindo na escala de subserviência, dos sapatos até ao cu. O engraxador foi promovido a lambe-botas e o lambe-botas a lambe-cu. Não é preciso realçar a diferença, em termos de subordinação hierárquica e flexibilidade de movimentos, entre engraxar uns sapatos e lamber um cu. Para fazer face à crescente popularidade do desporto, importaram-se dos Estados Unidos, campeão do mundo na modalidade, as regras e os estatutos da American Federation of Ass-licking and Brown-nosing. Os praticantes portugueses puderam assim esquecer os tempos amadores do engraxanço e aperfeiçoarem-se no desenvolvimento profissional do Culambismo. (...) Tudo isto teria graça se os culambistas portugueses fossem tão mal tratados e sucedidos como os engraxadores de outrora. O pior é que a nossa sociedade não só aceita o culambismo como forma prática de subir na vida, como começa a exigi-lo como habilitação profissional. O culambismo compensa. Sobreviver sem um mínimo de conhecimentos de culambismo é hoje tão difícil como vencer na vida sem saber falar inglês. .
terça-feira, 21 de junho de 2011
PatientsLikeMe
PatientsLikeMe
http://twitter.com/#!/patientslikeme
http://www.patientslikeme.com/
http://www.patientslikeme.com/
https://www.facebook.com/l.php?u=http%3A%2F%2Fblog.patientslikeme.com%2F&h=b0847
http://twitter.com/patientslikeme
http://www.youtube.com/patientslikeme
http://blog.patientslikeme.com/
Podia ser John F. Kennedy a falar-lhe: não pergunte o que as redes sociais podem fazer à sua saúde, mas antes o que pode fazer por ela neste microcosmos. Depois de dezenas de estudos alertarem para impactos negativos, como a deterioração das relações reais e o aumento dos divórcios (nos EUA o Facebook é citado numa em cada cinco separações), chegou uma constatação mais optimista sobre efeitos das redes sociais. Doentes e profissionais de saúde estão cada vez mais conscientes da importância da internet para prevenir e ultrapassar doenças.
Nos Estados Unidos, uma rede social só para doentes, médicos e investigadores reunia ontem mais de 107 mil utilizadores - incluindo 48 portugueses. A comunidade PatientsLikeMe está online desde 2005, criada por três investigadores do Instituto de Tecnologia de Massachusetts. O irmão de dois deles, Stephen Heywood, foi diagnosticado, aos 29 anos, com esclerose lateral amiotrófica e depressa a família percebeu que comunicar com outros doentes e conhecer as suas experiências seria a melhor forma de prever e preparar a evolução da doença. Um motivo mais do que razoável para criar uma rede social e uma ideia que, desde então, só teve eco nos milhares de pessoas a tentar perder peso, campeãs na criação de aplicações.
O primeiro utilizador português da PatientsLikeMe inscreveu-se em 2006. A única forma de aderir à rede é estar doente ou ser especialista. Depois é possível ver a evolução dos utilizadores que sofrem da mesma patologia, no caso deste utilizador nacional, uma doença neuromuscular rara chamada esclerose lateral primária. Além de discutir ideias, o perfil dos utilizadores permite ver como evoluíram desde os primeiros sintomas e como se sentem em termos sociais, psicológicos e físicos.
No site, os fundadores defendem um mundo onde a troca de informação entre doentes, médicos, farmacêuticas, investigadores e investidores é "livre e transparente". Admitem ainda que a informação publicada pelos doentes, sob anonimato, pode ser vendida a empresas para "melhorar produtos e o mercado das doenças". Além de gerirem uma plataforma de discussão em torno de mais de 500 doenças, querem ter um papel mais activo. A PatientsLikeMe assinou este mês uma parceria com a recrutadora de doentes para ensaios clínicos BBK Worldwide para reforçar a participação nacional nestas iniciativas científicas.
Mas não é só na partilha de sintomas e de informação sobre doenças que a internet poderá fazer a diferença. Na semana passada o "The New York Times" referia que as redes sociais estão a mudar a forma como os epidemiologistas descobrem e acompanham a evolução de surtos - algo que depois do surto de proporções inéditas de E. coli na Alemanha, e de todas as incertezas que gerou, será também bem-vindo. Aqui o mote é agregar informação disponível e um exemplo é o site HealthMap.org, criado em 2006 por iniciativa da Google e do Centro de Prevenção e Controlo de Doenças dos EUA.
O site tem uma aplicação para telemóvel, com o nome "Surtos perto de mim", e é aconselhado a quem vai viajar. Assim, se ontem estivesse a fazer as malas, seria informado de que há um surto de escarlatina em curso em Hong Kong. Mas não são só estes sistemas mais formais que despertam a atenção dos especialistas. Taha Kass-Hout, responsável pelo departamento de informação do Centro de Controlo e Prevenção de Doenças dos EUA, explicava, citado pelo "The New York Times", que à velocidade a que surtos podem alastrar a outros países, as redes sociais permitem despistar actualizações sobre sintomas atípicos, por exemplo, uma contaminação alimentar.
Do Reino Unido, numa carta publicada na semana passada na revista "Lancet", chega outra ideia - se calhar um pouco mais conservadora, face ao peso crescente das conversações em tempo real. Helen Atherton, do Imperial College London, está a estudar a melhor forma de reforçar a relação entre médicos de família e doentes através de email.
jornal i
http://twitter.com/#!/patientslikeme
http://www.patientslikeme.com/
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Podia ser John F. Kennedy a falar-lhe: não pergunte o que as redes sociais podem fazer à sua saúde, mas antes o que pode fazer por ela neste microcosmos. Depois de dezenas de estudos alertarem para impactos negativos, como a deterioração das relações reais e o aumento dos divórcios (nos EUA o Facebook é citado numa em cada cinco separações), chegou uma constatação mais optimista sobre efeitos das redes sociais. Doentes e profissionais de saúde estão cada vez mais conscientes da importância da internet para prevenir e ultrapassar doenças.
Nos Estados Unidos, uma rede social só para doentes, médicos e investigadores reunia ontem mais de 107 mil utilizadores - incluindo 48 portugueses. A comunidade PatientsLikeMe está online desde 2005, criada por três investigadores do Instituto de Tecnologia de Massachusetts. O irmão de dois deles, Stephen Heywood, foi diagnosticado, aos 29 anos, com esclerose lateral amiotrófica e depressa a família percebeu que comunicar com outros doentes e conhecer as suas experiências seria a melhor forma de prever e preparar a evolução da doença. Um motivo mais do que razoável para criar uma rede social e uma ideia que, desde então, só teve eco nos milhares de pessoas a tentar perder peso, campeãs na criação de aplicações.
O primeiro utilizador português da PatientsLikeMe inscreveu-se em 2006. A única forma de aderir à rede é estar doente ou ser especialista. Depois é possível ver a evolução dos utilizadores que sofrem da mesma patologia, no caso deste utilizador nacional, uma doença neuromuscular rara chamada esclerose lateral primária. Além de discutir ideias, o perfil dos utilizadores permite ver como evoluíram desde os primeiros sintomas e como se sentem em termos sociais, psicológicos e físicos.
No site, os fundadores defendem um mundo onde a troca de informação entre doentes, médicos, farmacêuticas, investigadores e investidores é "livre e transparente". Admitem ainda que a informação publicada pelos doentes, sob anonimato, pode ser vendida a empresas para "melhorar produtos e o mercado das doenças". Além de gerirem uma plataforma de discussão em torno de mais de 500 doenças, querem ter um papel mais activo. A PatientsLikeMe assinou este mês uma parceria com a recrutadora de doentes para ensaios clínicos BBK Worldwide para reforçar a participação nacional nestas iniciativas científicas.
Mas não é só na partilha de sintomas e de informação sobre doenças que a internet poderá fazer a diferença. Na semana passada o "The New York Times" referia que as redes sociais estão a mudar a forma como os epidemiologistas descobrem e acompanham a evolução de surtos - algo que depois do surto de proporções inéditas de E. coli na Alemanha, e de todas as incertezas que gerou, será também bem-vindo. Aqui o mote é agregar informação disponível e um exemplo é o site HealthMap.org, criado em 2006 por iniciativa da Google e do Centro de Prevenção e Controlo de Doenças dos EUA.
O site tem uma aplicação para telemóvel, com o nome "Surtos perto de mim", e é aconselhado a quem vai viajar. Assim, se ontem estivesse a fazer as malas, seria informado de que há um surto de escarlatina em curso em Hong Kong. Mas não são só estes sistemas mais formais que despertam a atenção dos especialistas. Taha Kass-Hout, responsável pelo departamento de informação do Centro de Controlo e Prevenção de Doenças dos EUA, explicava, citado pelo "The New York Times", que à velocidade a que surtos podem alastrar a outros países, as redes sociais permitem despistar actualizações sobre sintomas atípicos, por exemplo, uma contaminação alimentar.
Do Reino Unido, numa carta publicada na semana passada na revista "Lancet", chega outra ideia - se calhar um pouco mais conservadora, face ao peso crescente das conversações em tempo real. Helen Atherton, do Imperial College London, está a estudar a melhor forma de reforçar a relação entre médicos de família e doentes através de email.
jornal i
Educa(r)
http://blog.fundacaorespublica.pt/?p=370
"O ‘Eduquês’ em Discurso Directo" disseca com rigor e impiedade os lugares comuns em educação. Mostra o vazio dos conceitos que têm dominado a pseudo-pedagogia do laxismo e da irresponsabilidade. Explica a ideologia frouxa que está por detrás da linguagem mole e palavrosa a que se tem chamado eduquês.
Depois de ler este livro, ninguém pode continuar a aceitar acriticamente expressões tão comuns como «aprender a aprender», «ensino centrado no aluno» ou «aprendizagem em contexto». Percebem-se as ideias nocivas por detrás dessas expressões aparentemente inócuas.
Minuciosamente documentado com delirantes citações de responsáveis pela política educativa, apoiado em referências críticas da psicologia e da pedagogia, este livro não deixa pedra sobre pedra no edifício ideológico do eduqês.
Nuno Crato é um professor de matemática preocupado com a educação. Armado de uma vasta cultura científica, de uma experiência de docência em vários países e de fundamentadas preocupações filosóficas, empreende neste livro a primeira crítica sistemática da pedagogia romântica e construtivista que em Portugal ficou conhecida como eduquês."
http://blog.fundacaorespublica.pt/?author=12
http://www02.oph.fi/ops/english/POPS_net_new_1.pdf
"O ‘Eduquês’ em Discurso Directo" disseca com rigor e impiedade os lugares comuns em educação. Mostra o vazio dos conceitos que têm dominado a pseudo-pedagogia do laxismo e da irresponsabilidade. Explica a ideologia frouxa que está por detrás da linguagem mole e palavrosa a que se tem chamado eduquês.
Depois de ler este livro, ninguém pode continuar a aceitar acriticamente expressões tão comuns como «aprender a aprender», «ensino centrado no aluno» ou «aprendizagem em contexto». Percebem-se as ideias nocivas por detrás dessas expressões aparentemente inócuas.
Minuciosamente documentado com delirantes citações de responsáveis pela política educativa, apoiado em referências críticas da psicologia e da pedagogia, este livro não deixa pedra sobre pedra no edifício ideológico do eduqês.
Nuno Crato é um professor de matemática preocupado com a educação. Armado de uma vasta cultura científica, de uma experiência de docência em vários países e de fundamentadas preocupações filosóficas, empreende neste livro a primeira crítica sistemática da pedagogia romântica e construtivista que em Portugal ficou conhecida como eduquês."
http://blog.fundacaorespublica.pt/?author=12
http://www02.oph.fi/ops/english/POPS_net_new_1.pdf
segunda-feira, 20 de junho de 2011
In Bibiti
Bibiti from amer nazri on Vimeo.
As any writer, filmmaker, musician or other professional storyteller knows, it’s easy to get caught up in a complex plot. Trying to add twists and turns to make a story original, we often forget that the best stories are sometimes the most simple ones.
In Bibiti, London-based illustrator and animator Amer Nazri tells the story of 8 sons who want to get rid of their mother, but are betrayed by their own greed. It is a simple fable, but works brilliantly with the animation and is extremely polished. Bibiti may have had a tiny cast and crew but it’s a great accomplishment for Nazri, and we can’t wait to see what he has to offer in future.
http://portable.tv/film-festival
http://theportable.tumblr.com/
domingo, 19 de junho de 2011
mar
https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiQ4ZRJ3T4rSQ00l4uHg1G1RuSyx0i0VAyGXglhD-ihS5NoXr31EZvLT5x0PxHvkl4OBkarqWdP4vIUkJcc-2V4NdaWcwkdj_1juK6qaGg_5_a1AIimf2peNqtB2QvQdxh7IEtFUvBUvfYQ/s1600/20110616+Santa+Cruz+01.jpg
https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi5FQiS1-dXtUbW1iHM4rVcaXGZmTHNI_4zg0XIfS1Q_FpwxJefgL-tNrM4jg094E1w2DNhLNeA22O2tfXkiv14HKu22qynX7CLM76I2dGMV5wSUwn7a2SuZdV1C77UnD_m4S1es7ALa3S3/s1600/20110616+Santa+Cruz+02.jpg
https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi5FQiS1-dXtUbW1iHM4rVcaXGZmTHNI_4zg0XIfS1Q_FpwxJefgL-tNrM4jg094E1w2DNhLNeA22O2tfXkiv14HKu22qynX7CLM76I2dGMV5wSUwn7a2SuZdV1C77UnD_m4S1es7ALa3S3/s1600/20110616+Santa+Cruz+02.jpg
sábado, 18 de junho de 2011
Leonard Cohen - Waiting for the Miracle (with Lyrics)!
Leonard Cohen Lyrics:
Baby, I've been waiting,
I've been waiting night and day.
I didn't see the time,
I waited half my life away.
There were lots of invitations
and I know you sent me some,
but I was waiting
for the miracle, for the miracle to come.
I know you really loved me.
but, you see, my hands were tied.
I know it must have hurt you,
it must have hurt your pride
to have to stand beneath my window
with your bugle and your drum,
and me I'm up there waiting
for the miracle, for the miracle to come.
Ah I don't believe you'd like it,
You wouldn't like it here.
There ain't no entertainment
and the judgements are severe.
The Maestro says it's Mozart
but it sounds like bubble gum
when you're waiting
for the miracle, for the miracle to come.
Waiting for the miracle
There's nothing left to do.
I haven't been this happy
since the end of World War II.
Nothing left to do
when you know that you've been taken.
Nothing left to do
when you're begging for a crumb
Nothing left to do
when you've got to go on waiting
waiting for the miracle to come.
I dreamed about you, baby.
It was just the other night.
Most of you was naked
Ah but some of you was light.
The sands of time were falling
from your fingers and your thumb,
and you were waiting
for the miracle, for the miracle to come
Ah baby, let's get married,
we've been alone too long.
Let's be alone together.
Let's see if we're that strong.
Yeah let's do something crazy,
something absolutely wrong
while we're waiting
for the miracle, for the miracle to come.
Nothing left to do ...
When you've fallen on the highway
and you're lying in the rain,
and they ask you how you're doing
of course you'll say you can't complain --
If you're squeezed for information,
that's when you've got to play it dumb:
You just say you're out there waiting
for the miracle, for the miracle to come.
sexta-feira, 17 de junho de 2011
1973 - Luís Cília - "Fecundou-te"
Fecundou-te a vida nos pinhais.
Fecundou-te de seiva e de calor.
Alargou-te o corpo como os areais
onde o mar se espraia sem contorno e cor.
Pôs-te sonho onde havia apenas
silêncio de rosas por abrir,
e um jeito nas mãos morenas
de quem sabe que o fruto há-de surgir.
Brotou água onde tudo era secura.
Paz onde morava a solidão.
E a certeza de que a sepultura
é uma cova onde não cabe a coração.
Eugénio de Andrade
Oma bebida grátis
O importante não é aquilo que fazem de nós, mas o que nós mesmos fazemos do que os outros fizeram de nós.
JEAN-PAUL SARTRE
http://manuthinkerfree.blogspot.com/
JEAN-PAUL SARTRE
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quinta-feira, 16 de junho de 2011
Teaser Boaventura de Sousa Santos
"O sociólogo português Boaventura de Sousa Santos acredita que os partidos de centro-esquerda estão sendo derrotados pelas urnas na Europa porque não conseguem se diferenciar da direita. “Políticas liberais foram fielmente postas em prática e com grande zelo pelos próprios partidos de centro-esquerda”, afirma.
No domingo, o Partido Socialista português obteve a pior votação em 20 anos, e o PSD, de direita, fez o novo primeiro-ministro. Duas semanas antes, o espanhol teve uma derrota histórica.
Professor catedrático da Universidade de Coimbra, Sousa Santos, 70, acaba de lançar o livro “Portugal. Ensaio Contra a Autoflagelação”, em que discute a tendência de seus conterrâneos a se culpar por tudo.
Ele defende também a refundação da União Europeia e a renegociação da dívida de Portugal, Irlanda e Grécia"
Entrevista
http://vamosacambiarelmundo.org/2011/06/para-sociologo-centro-esquerda-perde-em-portugal-por-parecer-direita/
Legião Urbana - Cathedral Song
O deserto que atravessei
Ninguém me viu passar
Estranha e só
Nem pude ver que o céu é maior
Tentei dizer
Mas vi você
Tão longe de chegar
Mais perto de algum lugar
É deserto onde eu te encontrei
Você me viu passar
Correndo só
Nem pude ver que o tempo é maior
Olhei pra mim
Me vi assim
Tão perto de chegar
Onde você não está
No silêncio uma catedral
Um templo em mim
Onde eu possa ser imortal
Mas vai existir
Eu sei, vai ter que existir
Vai resistir nosso lugar
Solidão, quem pode evitar?
Te encontro enfim
Meu coração é secular
Sonha e desagua dentro de mim
Amanhã, devagar
Me diz como voltar
Se eu disser que foi por amor
Não vou mentir pra mim
Se eu disser deixa pra depois
Não foi sempre assim
Tentei dizer
Mas vi você
Tão longe de chegar
Mais perto de algum lugar
.-.
Rasura
«Quero agora fugir para enterrar de vez o que me faltou. Depois ver o que fui na forma das nuvens. Quero agora dissolver-me no mar de vozes, deixar-me engolir pelas vagas de vozes que deixo de querer ligar, sons que se derramam e vertem mel nas estrelas. Às vezes é um sussurro que me faz erguer a cabeça, que me tira os olhos do chão, de dentro de mim. Às vezes o estalar de uma película de vidro que me desperta do sonho em que vivo. Às vezes um grito vindo das estrelas que me ilumina o caminho, e ando sempre às escuras.
Deixo que uma mão me aflore a face, me percorra os dentes, mas é uma mão sem lábios, uma mão só de acariciar, e a minha sente apenas o ar quando procura um rosto.
"A tristeza é um outro nome de não termos o nosso lugar" . (Rushdie, S.; “O chão que ela pisa”; p. 317, colecção “Escritores estrangeiros da actualidade”, Planeta D’Agostini.)
Parti à procura do berço antigo que me foi roubado, do peluche abandonado num canto do casarão enorme em ruínas da minha memória.
Quero-te para toda a vida mas só se quiseres. Segues ao sabor do vento e eu não te posso acompanhar, mas transformar-me-ei num rochedo, ou num abrigo que espera sempre por notícias tuas. Farei do meu colo o continente de tantos sonhos e ficarei quieto a vê-los longínquos toda a eternidade. Esperarei por ti até quase secar de saudades e para me salvar beber-te-ei depois em todos os rostos.
Afinal não voltaste e tudo em mim escarnece a minha espera. Sei que o mundo é grande sem saber nada dele, o teu rosto é agora um túnel escuro onde caminho há tanto tempo sem encontrar o fim. O teu rosto é agora quase pó em mim, bastaria um pequeno sopro para fazer ruir a memória de um corpo, e não sei se esse pequeno sopro não foi já há muito tempo.
Quando tive a minha primeira noite de amor pensei que já poderia morrer, que já tinha tido tudo, que tinha por fim conhecido o céu. Continuei depois a querer despejar toda a vaga do meu desejo, na urgência da partilha de uma intimidade, ou se calhar apenas desaguar-me em ti, espraiar-me enlaçado em ti. Mas acabei sempre a erguer muros tão altos, depois destruía-os mas era tarde e olhava e só conseguia ver um deserto enorme.
Quando perdemos a memória somos um corpo vazio, um receptáculo para os nossos próprios restos (Don DeLillo; “Os Nomes”, p. 343, Relógio D’Água), um saco de ossos a desfazerem-se e temos urgência em inventar a História. Quando nos perdemos da memória criamos monstros, ou são os monstros que nos devoram a memória, ou são os monstros que a geram, transportam-na e ao partirem a levam com eles, ou é a memória que se estilhaça e gera corpos desolados sem saber que lugar ocupar dentro de nós.
Lembro-me de uma casa, deserta, como me foram todas. Uma casa suspensa na melancolia de um nome perdido. Amigo? Já não me lembro. De uma corda suspensa numa trave da casa. Mas parti, preferi passear a minha dor sempre pelas mesmas ruas, não para a exibir, passeá-la apenas para que não explodisse numa casa deserta, ou para a dissolver nos rostos que brilhavam nas ruas, ou incendiá-la ao beber a luz daqueles rostos.
Lembro-me de casas e de amigos de que já não me lembro. De gostar, no Inverno, de ver de cima o mar a lutar contra penhascos enormes, com um amigo de quem já não me lembro.
Se morresse enterrar-me-ia no passado, numa memória disforme de coisas perdidas a apodrecerem. Ficaria sem mais nada e preciso tanto de luz, da incandescência das coisas novas. Espero tanto por uma carícia. Alimento-me das do vento, dos beijos da água e dos frutos: cerejas, pêssegos, morangos, figos, mangas. Mas sobretudo da esperança por outras mãos de outros rostos, ou do rosto particular de um amigo triste com quem nunca falei, da esperança de que um dia as línguas se nos soltem, de poder beber o sumo das suas palavras. Mas é tão difícil nesta cidade sorrir a um amigo triste com quem nunca falei.
Sonho que estou no café antigo onde todos os dias à mesma hora vejo o meu amigo, que parece dirigir-me sempre um olhar triste, vou à casa de banho, ele entra e abraçamo-nos:
- Adoro-te.
- Fica comigo.
- Não podemos.
De repente entra outro rapaz, separamo-nos imediatamente e vamos cada um para a sua mesa. Continuamos a espreitarmo-nos timidamente. O outro vê-nos a desviarmos os olhares.
Mas já não vejo o meu amigo triste há algum tempo, acho que desde que lhe tentei sorrir e dizer olá muito baixinho. Talvez que ao olhar-me apenas visse um abismo tremendo de tanta coisa escondida que eram a única cintilação daquele enorme vazio.
Quero resgatar fantasmas se lambo a tinta com que pintei as minhas feridas. Ancorar a minha solidão em nomes perdidos, paisagens e corpos tão ténues como as nuvens num dia claro. “Fantasmas vocês que perdi e fantasma eu que os procuro entre sombras falando-vos como falam os mortos e respondendo palavras minhas, não vossas, o que espero que digam, sabendo que não diriam desse modo, se pudessem contar-me o que não conheço e talvez prefira não conhecer, o que sucedeu antes do meu nascimento ou quando era pequeno demais para entender o que sucedera e apenas me permito inventar, conforme as cartas antigas inventam o passado
não me explicam acerca dele, inventam” (António Lobo Antunes; “Que farei quando tudo arde”, p. 477, Publicações D. Quixote, 2001) .
E abraço sempre fantasmas antes de adormecer. Fantasmas ou mortos, e o que são fantasmas senão mortos vivos em mim, ou a imagem que me ficou dos vivos e dos mortos que um dia me tocaram, ou uma voz a chamar-me a cintilações tão longínquas, voz encantadora que me faz acreditar que ainda as posso resgatar. E o que são fantasmas senão corpos de mim, invocados por mim para florescer num deserto, mas se nem sequer um deserto existe serão sempre fantasmas desolados à procura de um outro lugar.
Torno-me espuma nesta cidade onde queria ser transparente e que me fez invisível, e quero sempre reconstruir um desejo que se estilhaça como as vagas atiradas às rochas, cego procuro fragmentos de sonhos perdidos, silenciosamente ainda sonho contá-los a alguém.
Torno-me uma folha seca caída no chão que espera pela rajada de vento para poder conhecer outro lugar. E fico à espera da tempestade que me possa fazer agir, ainda que seja um agir perturbado, ou um agir conduzido por um temporal. Partir sem destino, conduzido por cheiros e sabores de corpos também eles perdidos à procura de cheiros e sabores tão antigos como o tempo, de lugares sepultados na memória, lugares agora ruínas mas que não sabemos ruínas e temos medo de os não reconhecer, de passar ao largo de florestas queimadas onde deuses passeámos no início da História, num tempo sagrado que se tornou raiz.
Se não quero voltar a chorar tenho tanto medo de já não conseguir voltar a chorar por ninguém. E fico a ouvir o vento sussurrar nomes perdidos por entre as ruínas da memória onde ainda espero pelo desabrochar de uma flor. E adormeço à sombra do eco de nomes antigos. Amigos? Já não me lembro.
E ainda não sei se vivi, tolhido de medo das tempestades e dos incêndios que o desejo pudesse provocar, com o olhar sempre aflito a querer dizer mais e mais na falha da fala, encravada no medo que era um nó na garganta. Com as mãos nervosas à espera de outras, os olhos a chamar por outros.
Tento regular a intensidade do desejo criando vácuos no meu ser e experimentando a vertigem do não ser, apagar o que me apetecer ou fabricar delírios, transformando toda a História numa ficção absolutamente risível. A vida nunca foi aqui. Os que foram sepultados dentro de mim ainda me insultam, ainda me fazem mais pequeno e medroso por mais que mergulhe na vertigem, por mais que os incêndios me fascinem. E a ligar esses vácuos, vasos comunicantes onde as palavras numa correria tropeçam umas nas outras sem saber que correm para um abismo, tento resgatar as que ficaram feridas no caminho, se tratar delas com cuidado ainda me poderão salvar. As palavras doentes tornar-se-ão troncos fortes onde mil ramos podem florescer.
"Tento lembrar-me todos os dias da frase com que devo encontrar-te (...). Agora acho que amanhã não me vou esquecer. No entanto disse sempre o mesmo e esqueci-me sempre, ao acordar, das palavras com que posso encontrar-te (...). Inventei-as porque te vi os olhos cinza, mas nunca me lembro delas na manhã seguinte (...). Se ao menos conseguisse lembrar-me em que cidade é que estava a escrever" (Gabriel Garcia Marques; “Olhos de cão azul”, Quetzal, Lisboa) .
Sonho que estou num café, sentas-te na minha mesa, não falamos, de repente perguntas-me:
- Estás triste?
- Sempre compliquei muito as coisas. – Respondo-te.
- Eu também. – Respondes-me.
Levantamo-nos e saímos. Não falamos. De repente perguntas-me:
- Dás-me um abraço? – Olho para ti a sorrir, continuamos a andar em silêncio. De repente pergunto-te:
- Dás-me um abraço? – Olhas para mim a sorrir, continuamos a andar em silêncio.
"O amor nunca é uma dependência, é uma abundância e parece que nós continuamos a viver o amor por carência. Metemos no amor tudo o que não sabemos onde meter" (Inês Pedrosa; 1997, 2003; “Nas tuas mãos”, Publicações D. Quixote, Visão, p. 108).
No café sou menos que névoa, menos que teia; na esperança de uma companhia indefinida. Aqui me planto à espera das flores. Aqui me canto no mantra mais simples para te fazer surgir.
Tento lembrar-me todos os dias das canções de que fomos feitos. De um para o outro. Perdi-te há tanto tempo mas espero reencontrar-te quando de longe nos lembrarmos da mesma canção. Tento lembrar-me de todos os dias do outro som de um nome que nunca soube. Um som azul espantado por um silêncio cheio do atropelo de tantas vozes. O som da névoa a cobrir os rostos que perco de dentro de mim. Dos espaços rasgados pelo silêncio dos passeios solitários na noite.
Leio a tua letra num papel que guardei: "Que posso eu fazer senão escutar o coração inseguro dos pássaros (...) e perguntar o que aconteceu?" (Eugénio de Andrade, Primeiramente de As Palavras Interditas") "Que posso eu fazer senão beber-te os olhos enquanto a noite não cessa de crescer?" ( Eugénio de Andrade, Nocturno a duas vozes de Ostinato Rigore). Procuro o teu nome escondido nos jardins antes que o sol o apague. Ou apenas o saberei ler nesta luz de espectros que fogem dele. Planto-me às portas da noite à espera de notícias tuas ou para te reconhecer dentre os anjos com sede, anjos que voam e caiem e param para olhar para o mar, anjos como nós todos, de asas partidas, esquecidos das verdades descobertas num ontem tão antigo.
"Mas é precisamente daquilo que nos proíbem de falar que tem de se falar, fundir a língua no invisível, convertendo as palavras em espelho, navegar dentro delas sabendo que são barcos carentes de tripulação, sem outro interesse para além do enigma do que ou de quem os converteu em fantasmas, uma presença densa, mas impalpável de que temos de nos aproximar com passos de cego, neste universo onde tudo é aproximação e milagre de pedra, de carne, de trajectos sem finalidade, de deuses submersos no negrume. Com passos de cego enterraremos a bengala branca no centro ubíquo, onde palpita a eterna origem gerando vida aos borbotões. Nada podemos dizer dela, por isso, na escuridão ela é o nosso guia. Se aceitarmos a ignorância, ela converte-se em lâmpada: sob a aparente vacuidade das palavras ocultam-se os fulgores divinos..." (Alejandro Jodorowsky; O menino da Quinta-feira negra, p. 246, Oficina do Livro, Lisboa, 2002)
Agora fico, agora não saio daqui, percorro os meus livros à tua procura, sei que está num texto a tua pele, descubro os teus olhos num poema, o teu sorriso num enigma, sei que me sorris na letra de uma canção, procuro amontoar os livros que te podem criar, mas falta sempre qualquer coisa, não sei onde posso ler a tua respiração. Em que música poderei ouvir as tuas pulsações?
Continuo a perseguir sinais ao mesmo tempo que os quero mortos, inertes ou desossados de todo o poder. A carne do sonho apodrece-o se não o tornar carne, se não o fizer florescer da carne. Os mortos de mim apodrecem no ninho que ainda lhes teço.
“Não pensar em símbolos, não tentar encontrar um significado para tudo o que vejo acontecer, não transformar em imagens do que será, os sinais, sem reflexos, do que é, não misturar os deuses e a sua vida inventada com os acontecimentos reais do dia a dia. Mas como impedir-me? Toda a nossa educação converge para esse simbolismo no qual, com a doentia inclinação que temos para o inevitável e o trágico, nos esforçamos por encontrar a face do nosso próprio futuro. Somos todos pequenas Sibilas impotentes, prontos para traduzir o que é no que poderia ser. Opõem-se em nós duas linguagens sem correspondência possível, e procuramos angustiadamente pontos de contacto inexistentes. Conhecer o futuro significa destruirmo-nos , pois o conhecimento não evita a morte”. (Vintila Horia; Deus Nasceu no Exílio, p. 172, Âmbar, 2002, Porto)»
Luis Pinto Cardoso FB
«Quero agora fugir para enterrar de vez o que me faltou. Depois ver o que fui na forma das nuvens. Quero agora dissolver-me no mar de vozes, deixar-me engolir pelas vagas de vozes que deixo de querer ligar, sons que se derramam e vertem mel nas estrelas. Às vezes é um sussurro que me faz erguer a cabeça, que me tira os olhos do chão, de dentro de mim. Às vezes o estalar de uma película de vidro que me desperta do sonho em que vivo. Às vezes um grito vindo das estrelas que me ilumina o caminho, e ando sempre às escuras.
Deixo que uma mão me aflore a face, me percorra os dentes, mas é uma mão sem lábios, uma mão só de acariciar, e a minha sente apenas o ar quando procura um rosto.
"A tristeza é um outro nome de não termos o nosso lugar" . (Rushdie, S.; “O chão que ela pisa”; p. 317, colecção “Escritores estrangeiros da actualidade”, Planeta D’Agostini.)
Parti à procura do berço antigo que me foi roubado, do peluche abandonado num canto do casarão enorme em ruínas da minha memória.
Quero-te para toda a vida mas só se quiseres. Segues ao sabor do vento e eu não te posso acompanhar, mas transformar-me-ei num rochedo, ou num abrigo que espera sempre por notícias tuas. Farei do meu colo o continente de tantos sonhos e ficarei quieto a vê-los longínquos toda a eternidade. Esperarei por ti até quase secar de saudades e para me salvar beber-te-ei depois em todos os rostos.
Afinal não voltaste e tudo em mim escarnece a minha espera. Sei que o mundo é grande sem saber nada dele, o teu rosto é agora um túnel escuro onde caminho há tanto tempo sem encontrar o fim. O teu rosto é agora quase pó em mim, bastaria um pequeno sopro para fazer ruir a memória de um corpo, e não sei se esse pequeno sopro não foi já há muito tempo.
Quando tive a minha primeira noite de amor pensei que já poderia morrer, que já tinha tido tudo, que tinha por fim conhecido o céu. Continuei depois a querer despejar toda a vaga do meu desejo, na urgência da partilha de uma intimidade, ou se calhar apenas desaguar-me em ti, espraiar-me enlaçado em ti. Mas acabei sempre a erguer muros tão altos, depois destruía-os mas era tarde e olhava e só conseguia ver um deserto enorme.
Quando perdemos a memória somos um corpo vazio, um receptáculo para os nossos próprios restos (Don DeLillo; “Os Nomes”, p. 343, Relógio D’Água), um saco de ossos a desfazerem-se e temos urgência em inventar a História. Quando nos perdemos da memória criamos monstros, ou são os monstros que nos devoram a memória, ou são os monstros que a geram, transportam-na e ao partirem a levam com eles, ou é a memória que se estilhaça e gera corpos desolados sem saber que lugar ocupar dentro de nós.
Lembro-me de uma casa, deserta, como me foram todas. Uma casa suspensa na melancolia de um nome perdido. Amigo? Já não me lembro. De uma corda suspensa numa trave da casa. Mas parti, preferi passear a minha dor sempre pelas mesmas ruas, não para a exibir, passeá-la apenas para que não explodisse numa casa deserta, ou para a dissolver nos rostos que brilhavam nas ruas, ou incendiá-la ao beber a luz daqueles rostos.
Lembro-me de casas e de amigos de que já não me lembro. De gostar, no Inverno, de ver de cima o mar a lutar contra penhascos enormes, com um amigo de quem já não me lembro.
Se morresse enterrar-me-ia no passado, numa memória disforme de coisas perdidas a apodrecerem. Ficaria sem mais nada e preciso tanto de luz, da incandescência das coisas novas. Espero tanto por uma carícia. Alimento-me das do vento, dos beijos da água e dos frutos: cerejas, pêssegos, morangos, figos, mangas. Mas sobretudo da esperança por outras mãos de outros rostos, ou do rosto particular de um amigo triste com quem nunca falei, da esperança de que um dia as línguas se nos soltem, de poder beber o sumo das suas palavras. Mas é tão difícil nesta cidade sorrir a um amigo triste com quem nunca falei.
Sonho que estou no café antigo onde todos os dias à mesma hora vejo o meu amigo, que parece dirigir-me sempre um olhar triste, vou à casa de banho, ele entra e abraçamo-nos:
- Adoro-te.
- Fica comigo.
- Não podemos.
De repente entra outro rapaz, separamo-nos imediatamente e vamos cada um para a sua mesa. Continuamos a espreitarmo-nos timidamente. O outro vê-nos a desviarmos os olhares.
Mas já não vejo o meu amigo triste há algum tempo, acho que desde que lhe tentei sorrir e dizer olá muito baixinho. Talvez que ao olhar-me apenas visse um abismo tremendo de tanta coisa escondida que eram a única cintilação daquele enorme vazio.
Quero resgatar fantasmas se lambo a tinta com que pintei as minhas feridas. Ancorar a minha solidão em nomes perdidos, paisagens e corpos tão ténues como as nuvens num dia claro. “Fantasmas vocês que perdi e fantasma eu que os procuro entre sombras falando-vos como falam os mortos e respondendo palavras minhas, não vossas, o que espero que digam, sabendo que não diriam desse modo, se pudessem contar-me o que não conheço e talvez prefira não conhecer, o que sucedeu antes do meu nascimento ou quando era pequeno demais para entender o que sucedera e apenas me permito inventar, conforme as cartas antigas inventam o passado
não me explicam acerca dele, inventam” (António Lobo Antunes; “Que farei quando tudo arde”, p. 477, Publicações D. Quixote, 2001) .
E abraço sempre fantasmas antes de adormecer. Fantasmas ou mortos, e o que são fantasmas senão mortos vivos em mim, ou a imagem que me ficou dos vivos e dos mortos que um dia me tocaram, ou uma voz a chamar-me a cintilações tão longínquas, voz encantadora que me faz acreditar que ainda as posso resgatar. E o que são fantasmas senão corpos de mim, invocados por mim para florescer num deserto, mas se nem sequer um deserto existe serão sempre fantasmas desolados à procura de um outro lugar.
Torno-me espuma nesta cidade onde queria ser transparente e que me fez invisível, e quero sempre reconstruir um desejo que se estilhaça como as vagas atiradas às rochas, cego procuro fragmentos de sonhos perdidos, silenciosamente ainda sonho contá-los a alguém.
Torno-me uma folha seca caída no chão que espera pela rajada de vento para poder conhecer outro lugar. E fico à espera da tempestade que me possa fazer agir, ainda que seja um agir perturbado, ou um agir conduzido por um temporal. Partir sem destino, conduzido por cheiros e sabores de corpos também eles perdidos à procura de cheiros e sabores tão antigos como o tempo, de lugares sepultados na memória, lugares agora ruínas mas que não sabemos ruínas e temos medo de os não reconhecer, de passar ao largo de florestas queimadas onde deuses passeámos no início da História, num tempo sagrado que se tornou raiz.
Se não quero voltar a chorar tenho tanto medo de já não conseguir voltar a chorar por ninguém. E fico a ouvir o vento sussurrar nomes perdidos por entre as ruínas da memória onde ainda espero pelo desabrochar de uma flor. E adormeço à sombra do eco de nomes antigos. Amigos? Já não me lembro.
E ainda não sei se vivi, tolhido de medo das tempestades e dos incêndios que o desejo pudesse provocar, com o olhar sempre aflito a querer dizer mais e mais na falha da fala, encravada no medo que era um nó na garganta. Com as mãos nervosas à espera de outras, os olhos a chamar por outros.
Tento regular a intensidade do desejo criando vácuos no meu ser e experimentando a vertigem do não ser, apagar o que me apetecer ou fabricar delírios, transformando toda a História numa ficção absolutamente risível. A vida nunca foi aqui. Os que foram sepultados dentro de mim ainda me insultam, ainda me fazem mais pequeno e medroso por mais que mergulhe na vertigem, por mais que os incêndios me fascinem. E a ligar esses vácuos, vasos comunicantes onde as palavras numa correria tropeçam umas nas outras sem saber que correm para um abismo, tento resgatar as que ficaram feridas no caminho, se tratar delas com cuidado ainda me poderão salvar. As palavras doentes tornar-se-ão troncos fortes onde mil ramos podem florescer.
"Tento lembrar-me todos os dias da frase com que devo encontrar-te (...). Agora acho que amanhã não me vou esquecer. No entanto disse sempre o mesmo e esqueci-me sempre, ao acordar, das palavras com que posso encontrar-te (...). Inventei-as porque te vi os olhos cinza, mas nunca me lembro delas na manhã seguinte (...). Se ao menos conseguisse lembrar-me em que cidade é que estava a escrever" (Gabriel Garcia Marques; “Olhos de cão azul”, Quetzal, Lisboa) .
Sonho que estou num café, sentas-te na minha mesa, não falamos, de repente perguntas-me:
- Estás triste?
- Sempre compliquei muito as coisas. – Respondo-te.
- Eu também. – Respondes-me.
Levantamo-nos e saímos. Não falamos. De repente perguntas-me:
- Dás-me um abraço? – Olho para ti a sorrir, continuamos a andar em silêncio. De repente pergunto-te:
- Dás-me um abraço? – Olhas para mim a sorrir, continuamos a andar em silêncio.
"O amor nunca é uma dependência, é uma abundância e parece que nós continuamos a viver o amor por carência. Metemos no amor tudo o que não sabemos onde meter" (Inês Pedrosa; 1997, 2003; “Nas tuas mãos”, Publicações D. Quixote, Visão, p. 108).
No café sou menos que névoa, menos que teia; na esperança de uma companhia indefinida. Aqui me planto à espera das flores. Aqui me canto no mantra mais simples para te fazer surgir.
Tento lembrar-me todos os dias das canções de que fomos feitos. De um para o outro. Perdi-te há tanto tempo mas espero reencontrar-te quando de longe nos lembrarmos da mesma canção. Tento lembrar-me de todos os dias do outro som de um nome que nunca soube. Um som azul espantado por um silêncio cheio do atropelo de tantas vozes. O som da névoa a cobrir os rostos que perco de dentro de mim. Dos espaços rasgados pelo silêncio dos passeios solitários na noite.
Leio a tua letra num papel que guardei: "Que posso eu fazer senão escutar o coração inseguro dos pássaros (...) e perguntar o que aconteceu?" (Eugénio de Andrade, Primeiramente de As Palavras Interditas") "Que posso eu fazer senão beber-te os olhos enquanto a noite não cessa de crescer?" ( Eugénio de Andrade, Nocturno a duas vozes de Ostinato Rigore). Procuro o teu nome escondido nos jardins antes que o sol o apague. Ou apenas o saberei ler nesta luz de espectros que fogem dele. Planto-me às portas da noite à espera de notícias tuas ou para te reconhecer dentre os anjos com sede, anjos que voam e caiem e param para olhar para o mar, anjos como nós todos, de asas partidas, esquecidos das verdades descobertas num ontem tão antigo.
"Mas é precisamente daquilo que nos proíbem de falar que tem de se falar, fundir a língua no invisível, convertendo as palavras em espelho, navegar dentro delas sabendo que são barcos carentes de tripulação, sem outro interesse para além do enigma do que ou de quem os converteu em fantasmas, uma presença densa, mas impalpável de que temos de nos aproximar com passos de cego, neste universo onde tudo é aproximação e milagre de pedra, de carne, de trajectos sem finalidade, de deuses submersos no negrume. Com passos de cego enterraremos a bengala branca no centro ubíquo, onde palpita a eterna origem gerando vida aos borbotões. Nada podemos dizer dela, por isso, na escuridão ela é o nosso guia. Se aceitarmos a ignorância, ela converte-se em lâmpada: sob a aparente vacuidade das palavras ocultam-se os fulgores divinos..." (Alejandro Jodorowsky; O menino da Quinta-feira negra, p. 246, Oficina do Livro, Lisboa, 2002)
Agora fico, agora não saio daqui, percorro os meus livros à tua procura, sei que está num texto a tua pele, descubro os teus olhos num poema, o teu sorriso num enigma, sei que me sorris na letra de uma canção, procuro amontoar os livros que te podem criar, mas falta sempre qualquer coisa, não sei onde posso ler a tua respiração. Em que música poderei ouvir as tuas pulsações?
Continuo a perseguir sinais ao mesmo tempo que os quero mortos, inertes ou desossados de todo o poder. A carne do sonho apodrece-o se não o tornar carne, se não o fizer florescer da carne. Os mortos de mim apodrecem no ninho que ainda lhes teço.
“Não pensar em símbolos, não tentar encontrar um significado para tudo o que vejo acontecer, não transformar em imagens do que será, os sinais, sem reflexos, do que é, não misturar os deuses e a sua vida inventada com os acontecimentos reais do dia a dia. Mas como impedir-me? Toda a nossa educação converge para esse simbolismo no qual, com a doentia inclinação que temos para o inevitável e o trágico, nos esforçamos por encontrar a face do nosso próprio futuro. Somos todos pequenas Sibilas impotentes, prontos para traduzir o que é no que poderia ser. Opõem-se em nós duas linguagens sem correspondência possível, e procuramos angustiadamente pontos de contacto inexistentes. Conhecer o futuro significa destruirmo-nos , pois o conhecimento não evita a morte”. (Vintila Horia; Deus Nasceu no Exílio, p. 172, Âmbar, 2002, Porto)»
Luis Pinto Cardoso FB
quarta-feira, 15 de junho de 2011
JS
JOSÉ SÓCRATES, Portugal’s prime minister, has become the latest European socialist to fall victim to the euro zone's debt crisis after his party's decisive defeat by right-wing opposition parties in yesterday's snap general election.
The daunting task of implementing the country’s tough €78 billion ($115 billion) EU/IMF bail-out agreement now falls to Pedro Passos Coelho, who is to become prime minister at the head of a two-party coalition led by his centre-right Social Democrats (PSD).
After six years in office and a failed effort to resist following Greece and Ireland into an international rescue, Mr Sócrates announced last night that he would resign as leader of the Socialists and withdraw, at least temporarily, from front-line politics. The party gained just 28% of the vote yesterday, its worst election result in more than 20 years.
The PSD's victory leaves the 27-nation EU with only five left-wing governments: Spain, Greece, Austria, Slovenia and Cyprus. Spain, by far the biggest of these, is expected to move into the centre-right camp in a general election due by next March.
Surpassing opinion-poll forecasts, the PSD won 39% of the vote, but fell just short of an overall majority. Mr Passos Coelho nevertheless achieved his main goal of securing enough seats to enjoy a comfortable majority in coalition with the smaller conservative Popular Party (CDS-PP), which gained 12% of the vote. The two parties together will hold at least 130 seats in the 230-seat parliament.
After two years of unstable minority government under Mr Sócrates—whose administration was brought down in March, less than 18 months into its term, in a vote over austerity measures—the election of a coalition with a solid majority is reassuring news for the EU and the IMF.
But Mr Passos Coelho, who has no experience in government, will have to work hard to meet the exacting deadlines set out for implementing the terms of the rescue package, a sweeping three-year programme of public-spending cuts, tax increases and economic reforms. Moreover, Portugal’s constitutional rules mean his government is unlikely to take office until the end of June, less than a month before the first EU-IMF mission is due in Lisbon to assess progress.
Portuguese economists and business leaders are concerned that any delay in carrying out the EU-IMF programme would place Portugal in a similar situation to Greece, which is now seeking a second bail-out package worth €60 billion in order to avert a forced debt restructuring.
Portugal faces an extra challenge. The PSD, CDS-PP and the Socialists have all signed up to the bail-out programme. But the constitution, drawn up following the left-wing coup that toppled the dictatorship in 1974, could prove a hurdle. Unlike the bail-out packages for Greece and Ireland, the EU-IMF agreement with Portugal includes plans for extensive structural reforms in areas like justice, healthcare, education and even the armed forces. Mr Passos Coelho believes a constitutional revision is essential to ensure that legislation in these areas does not run foul of the constitutional court. Changing the constitution requires a two-thirds majority in parliament—which means support from the Socialists would be essential.
In a climate of deep recession, with unemployment at record levels and trade unions adamantly opposed to proposed changes in labour laws, the key to economic reform in Portugal and the success of the bail-out programme could still lie with the defeated Socialists.
via
http://www.economist.com/blogs/newsbook
The daunting task of implementing the country’s tough €78 billion ($115 billion) EU/IMF bail-out agreement now falls to Pedro Passos Coelho, who is to become prime minister at the head of a two-party coalition led by his centre-right Social Democrats (PSD).
After six years in office and a failed effort to resist following Greece and Ireland into an international rescue, Mr Sócrates announced last night that he would resign as leader of the Socialists and withdraw, at least temporarily, from front-line politics. The party gained just 28% of the vote yesterday, its worst election result in more than 20 years.
The PSD's victory leaves the 27-nation EU with only five left-wing governments: Spain, Greece, Austria, Slovenia and Cyprus. Spain, by far the biggest of these, is expected to move into the centre-right camp in a general election due by next March.
Surpassing opinion-poll forecasts, the PSD won 39% of the vote, but fell just short of an overall majority. Mr Passos Coelho nevertheless achieved his main goal of securing enough seats to enjoy a comfortable majority in coalition with the smaller conservative Popular Party (CDS-PP), which gained 12% of the vote. The two parties together will hold at least 130 seats in the 230-seat parliament.
After two years of unstable minority government under Mr Sócrates—whose administration was brought down in March, less than 18 months into its term, in a vote over austerity measures—the election of a coalition with a solid majority is reassuring news for the EU and the IMF.
But Mr Passos Coelho, who has no experience in government, will have to work hard to meet the exacting deadlines set out for implementing the terms of the rescue package, a sweeping three-year programme of public-spending cuts, tax increases and economic reforms. Moreover, Portugal’s constitutional rules mean his government is unlikely to take office until the end of June, less than a month before the first EU-IMF mission is due in Lisbon to assess progress.
Portuguese economists and business leaders are concerned that any delay in carrying out the EU-IMF programme would place Portugal in a similar situation to Greece, which is now seeking a second bail-out package worth €60 billion in order to avert a forced debt restructuring.
Portugal faces an extra challenge. The PSD, CDS-PP and the Socialists have all signed up to the bail-out programme. But the constitution, drawn up following the left-wing coup that toppled the dictatorship in 1974, could prove a hurdle. Unlike the bail-out packages for Greece and Ireland, the EU-IMF agreement with Portugal includes plans for extensive structural reforms in areas like justice, healthcare, education and even the armed forces. Mr Passos Coelho believes a constitutional revision is essential to ensure that legislation in these areas does not run foul of the constitutional court. Changing the constitution requires a two-thirds majority in parliament—which means support from the Socialists would be essential.
In a climate of deep recession, with unemployment at record levels and trade unions adamantly opposed to proposed changes in labour laws, the key to economic reform in Portugal and the success of the bail-out programme could still lie with the defeated Socialists.
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http://www.economist.com/blogs/newsbook
http://www.economist.com/blogs/buttonwood/2011/06/inflation-equality-and-debt-crisis?fsrc=scn/fb/wl/bl/whosuffersfrominflation
Padre António Vieira
«Não só vos comeis uns aos outros, senão que os grandes comem os pequenos. Se fora pelo contrário, era menos mal. Se os pequenos comeram os grandes, bastara um grande para muitos pequenos; mas como os grandes comem os pequenos, não bastam cem pequenos, nem mil, para um só grande.»
Sermão de Santo António aos Peixes", Padre António Vieira, pregado na cidade de São Luís do Maranhão em 1654
via
http://conversavinagrada.blogspot.com/
leitura integral aqui
http://www.passeiweb.com/na_ponta_lingua/livros/resumos_comentarios/s/sermao_de_santo_antonio_aos_peixes
http://www.blogger.com/profile/06439394490702406927
Sermão de Santo António aos Peixes", Padre António Vieira, pregado na cidade de São Luís do Maranhão em 1654
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http://conversavinagrada.blogspot.com/
leitura integral aqui
http://www.passeiweb.com/na_ponta_lingua/livros/resumos_comentarios/s/sermao_de_santo_antonio_aos_peixes
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William Kentridge e Handspring Puppet Company_Woyzeck on the Highweld
http://www.ukarts.com/Shows/Woyzeck-on-the-Highveld/index.asp
terça-feira, 14 de junho de 2011
"A felicidade dos gatos faz-se por repetição"
Mas, se me permite, falarei do gato. Ou da gata, para ser mais preciso. É talvez o membro da família que eu mais inveje: será possível passar pela existência de uma forma tão serena, tão ociosa, tão elegante? […] Tudo nos gatos é insultuoso para nós e para as nossas vidas. A começar pela relação que eles mantêm com o tempo. Nós somos seres temporais por definição: vivemos sempre carregados de passado ou de futuro; do que fomos ou seremos; entre as memórias e as aspirações; e com a certeza da morte à nossa espera. Somos, numa palavra, patéticos. Esta específica temporalidade descentra-nos do presente, atira-nos para fora dele. Mas os gatos, pelo contrário, vivem cada momento de uma forma completa, total. E sabe porquê? O Mark Rowlands explica isso num livro notável sobre lobos: porque para os gatos, como para os lobos, a felicidade não se faz por adição - adição de novas experiências; novos lugares; novos objectos; novos projectos; novos amores. Essa dança macabra é só nossa. A felicidade dos gatos faz-se por repetição. Eles repetem o que lhes é significativo. Passo horas a olhar para a minha gata. Aprendi mais com ela do que em anos e anos de leituras filosóficas.
JPC, em entrevista à Pública
http://www.dailymotion.com/video/xik4kh_debtocracy-international-version_shortfilms
JPC, em entrevista à Pública
http://www.dailymotion.com/video/xik4kh_debtocracy-international-version_shortfilms
segunda-feira, 13 de junho de 2011
Beethoven "Für Elise" Valentina Lisitsa Seoul Philharmonic
http://www.youtube.com/watch?v=yAsDLGjMhFI
the straight story - final part (contains spoiler)
http://www.youtube.com/watch?v=2CIOP-YkeyQ&feature=related
domingo, 12 de junho de 2011
" Ela olha para ela em vez de olhar para ti, e por isso não te conhece"
"Ela olha para ela em vez de olhar para ti, e por isso não te conhece.
Durante as duas ou três pequenas explosões de paixão que ela se permitiu a teu favor, ela, por um grande esforço de imaginação, viu em ti o herói dos seus sonhos, e não tu mesmo como realmente és."
Stendhal
in: Le Rouge et le Noir
Narcisa ou a Auto-Admiradora
http://anavidigal.blogspot.com/2011/03/ela-olha-para-ela.html?spref=fb
sexta-feira, 10 de junho de 2011
Poetry by RUMI -- Who Says Words with My Mouth
Rumi: Who Says Words With My Mouth?
"All day I think about it, then at night I say it.
Where did I come from, and what am I supposed to be doing?
I have no idea.
My soul is from elsewhere, I'm sure of that,
and I intend to end up there.
This drunkenness began in some other tavern. When I get back around to that place, I'll be completely sober. Meanwhile,
I'm like a bird from another continent, sitting in this aviary.
The day is coming when I fly off,
but who is it now in my ear, who hears my voice? Who says words with my mouth?
Who looks out with my eyes? What is the soul?
I cannot stop asking.
If I could taste one sip of an answer,
I could break out of this prison for drunks.
I didn't come here of my own accord, and I can't leave that way.
Let whoever brought me here take me back.
This poetry. I never know what I'm going to say. I don't plan it. When I'm outside the saying of it,
I get very quiet and rarely speak at all."
Dolores Duran - Fim de Caso (1959)
"A gravação na verdade é de 1959, e saiu no mesmo compacto duplo que continha "My funny Valentine", "A banca do distinto" e "A noite do meu bem" ("Dolores Duran no Michel de São Paulo", Copacabana CEP-4568). O 78 rpm com esta música e "Fim de caso" só saiu dois meses depois da morte de Dolores, em dezembro de 59, com o número 6069. E confirmando: "O negócio é amar" só foi musicada por Carlos Lyra anos após a morte da compositora"
Sérgio Godinho & Vitorino - Barnabé
Barnabé Sérgio Godinho
Vieram profetas
vieram doutores
santos milagreiros, poetas, cantores
cada qual com um discurso diferente
p'ra curar a vida da gente
p'ra curar a vida da gente
e a gente parada fez orelhas moucas
que com falas dessas as esperanças são poucas
mas quando o Barnabé cá chegou
toda a gente arribou
toda a gente arribou
Que é que tem o Barnabé que é diferente dos outros?
Vieram peritos
em habilidades
dizer que a fortuna nasce nas cidades
e que só ganha quem concorrer
e quem vai ser, quem vai ser
quem vai ganhar, vai vencer?
e a gente parada fez orelhas moucas
que com falas dessas as esperanças são poucas
mas quando o Barnabé cá chegou
toda a gente ganhou
toda a gente ganhou
Que é que tem o Barnabé que é diferente dos outros?
Vieram comerciantes
vender sabonetes
danças regionais, televisões, rabanetes
em suaves prestações mensais
quem dá mais, quem dá mais?
quem dá mais, quem dá mais?
e a gente parada fez orelhas moucas
que com falas dessas as esperanças são poucas
mas quando o Barnabé cá chegou
quem tinha ouvidos ouviu
quem tinha pernas dançou
Que é que tem o Barnabé que é diferente dos outros?
http://www.vagalume.com.br/sergio-godinho/barnabe.html#ixzz1Osx9e7Ku
quinta-feira, 9 de junho de 2011
"The Song of the Old Mother" by W.B. Yeats (poetry reading)
"Old Woman Frying Eggs" was by Diego Rodriguez de Silva y VELÁZQUEZ, 1618
Yeats revised many early poems. Here is a slightly different version.
I RISE in the dawn, and I kneel and blow
Till the seed of the fire flicker and glow.
And then I must scrub, and bake, and sweep,
Till stars are beginning to blink and peep;
But the young lie long and dream in their bed
Of the matching of ribbons, the blue and the red,
And their day goes over in idleness,
And they sigh if the wind but lift up a tress.
While I must work, because I am old
And the seed of the fire gets feeble and cold.
Provocações -Lisbon Revisited 1923 (Alvaro de Campos) - Antonio Abujamra...
NÃO: Não quero nada.
Já disse que não quero nada.
Não me venham com conclusões!
A única conclusão é morrer.
Não me tragam estéticas!
Não me falem em moral!
Tirem-me daqui a metafísica!
Não me apregoem sistemas completos, não me enfileirem conquistas
Das ciências (das ciências, Deus meu, das ciências!) —
Das ciências, das artes, da civilização moderna!
Que mal fiz eu aos deuses todos?
Se têm a verdade, guardem-na!
Sou um técnico, mas tenho técnica só dentro da técnica.
Fora disso sou doido, com todo o direito a sê-lo.
Com todo o direito a sê-lo, ouviram?
Não me macem, por amor de Deus!
Queriam-me casado, fútil, quotidiano e tributável?
Queriam-me o contrário disto, o contrário de qualquer coisa?
Se eu fosse outra pessoa, fazia-lhes, a todos, a vontade.
Assim, como sou, tenham paciência!
Vão para o diabo sem mim,
Ou deixem-me ir sozinho para o diabo!
Para que havemos de ir juntos?
Não me peguem no braço!
Não gosto que me peguem no braço. Quero ser sozinho.
Já disse que sou sozinho!
Ah, que maçada quererem que eu seja da companhia!
Deixem-me em paz! Não tardo, que eu nunca tardo...
E enquanto tarda o Abismo e o Silêncio quero estar sozinho!
O tempo transforma tudo em tempo:
http://www.youtube.com/watch?v=tgsrkBqI54g
Sobre o Autor: Fernando Pessoa (1888 - 1935) nasceu em Lisboa. Considerado um dos mais importantes poetas modernistas. Criou heterônimos famosos como Alberto Caieiro, Ricardo Reis e Álvaro Campos.
quarta-feira, 8 de junho de 2011
E por vezes
pintura de Lurdes (ateliê Gestos Coloridos)
E por vezes as noites duram meses
E por vezes os meses oceanos
E por vezes os braços que apertamos
nunca mais são os mesmos E por vezes
encontramos de nós em poucos meses
o que a noite nos fez em muitos anos
E por vezes fingimos que lembramos
E por vezes lembramos que por vezes
ao tomarmos o gosto aos oceanos
só o sarro das noites não dos meses
lá no fundo dos copos encontramos
E por vezes sorrimos ou choramos
E por vezes por vezes ah por vezes
num segundo se envolam tantos anos.
David Mourão Ferreira
http://okayempatins.blogspot.com/
terça-feira, 7 de junho de 2011
Blank and Jones - Beyond Time (The Amazing Dunes and Deserts)
via
http://www.marcasfortes.blogspot.com/
You Are LOVE
In this soothing yet powerful video, created by Oribel Divine, accompanied by original music from Dan Burke, and featuring the photography of Rupert Davis, Lee speaks directly to you about yourself, your levels of love, who you are and what you are here to experience
segunda-feira, 6 de junho de 2011
Song for Mia - Lizz Wright
Canção Para Mia
Eu fui para baixo da água, durante toda a noite
Estou colocando meus pés em, durante toda a noite
E eu fui para baixo da água, durante toda a noite
E eu estou colocando meus sonhos, a noite toda
E o que você pensa de mim, eu não posso dizer
Vou levar esses sonhos ruins e eu dirigimos ao longo do caminho
Eu estou na praia agora, as sombras nas minhas costas
Eu posso sentir as ondas chegando lá, pesado e preto
Mas eu não posso ir embora agora porque eu
Eles estão cantando uma canção
E eu, eu estou em harmonia
Eu estou cantando
E o que você fez para mim, eu não agüento mais
Vou levar esses sonhos ruins e eu vou colocá-las na praia
O fim do oceano que nunca verei
Eu fico olhando ao longe e ela me olhando de volta
E eu vou olhar para baixo para a água a noite toda
E eu vou colocar meus pés dentro, toda a noite
E eu vou colocar meus sonhos, a noite toda
E eu vou colocar as minhas lágrimas em, durante toda a noite
Eu fui para baixo da água
via
http://letras.terra.com.br/lizz-wright/1235191/traducao.html
domingo, 5 de junho de 2011
sábado, 4 de junho de 2011
The Pritzker Architecture Prize
O presidente Obama ao elogiar Souto Moura, acabou por, como ele próprio o disse, elogiar todos os arquitectos de Portugal.
Que grande noite de promoção de Portugal e da arquitectura portuguesa!
sexta-feira, 3 de junho de 2011
quinta-feira, 2 de junho de 2011
Christopher Bofoli
Forum para a Competitividade: Pedro Ferraz da Costa na SIC
Pedro Ferraz da Costa , Presidente do Forum para a Competitividade opina no Jornal da Noite da SIC (31 Maio 2011) sobre o estado da Nação e as medidas necessarias para o retorno da normalidade.
O Forum para a Competitividade é uma associação de direito privado, sem fins lucrativos constituída em Fevereiro de 1994 em seguimento das propostas formuladas no estudo CONSTRUIR AS VANTAGENS COMPETITIVAS DE PORTUGAL encomendado pelo então Ministro da Indústria e Energia, Eng.º Luís Mira Amaral, financiado por um conjunto de empresas, associações empresariais e outras entidades públicas e privadas e sob a direcção do Professor Michael Porter.
quarta-feira, 1 de junho de 2011
ALGUMAS COISAS
ALGUMAS COISAS QUE DEVERIAM VER ANTES DE SENTIR QUE VIVEMOS EM DEMOCRACIA:
http://www.youtube.com/watch?v=3Y3jE3B8HsE/
http://en.wikipedia.org/wiki/File:Hand_marking_ranked_ballot.JPG
--> O Voto Alternativo<-- O método actual de gestão dos resultados dos votos chama-se Método D'Hondt e favorece o bipartidarismo e a perpeptuação contínua dos mesmo no poder. O voto alternativo é, NO MÍNIMO, como deveria ser. 2) http://www.ionline.pt/conteudo/113267-islandia-o-povo-e-quem-mais-ordena-e-ja-tirou-o-pais-da-recessao /
http://www.youtube.com/watch?v=MePlswwa7FU
– A recente Revolução Silenciosa da ISLÂNDIA, aquela de que tantos de vós não ouviram falar porque simplesmente não foi divulgado na televisão. O povo da islândia uniu-se, protestou, forçaram os antigos governantes à demissão, elegeram através de uma Democracia Directa 25 representantes de entre 522 candidatos, os causadores da crise foram culpabilizados, tomaram decisões através de referendos e já conseguiram sair da recessão!... Desconfiem do que ouvem na televisão, as evidências andam aí. 3) http://www.youtube.com/watch?v=tytH0CQSsXo
–
Trailer do documentário Inside Job (que mostra como se monta uma crise económica) 4) http://www.sabado.pt/
Cronicas/Vitor-Matos/Corrupcao.aspx – Artigo da Sábado sobre a corrupção inerente ao partidarismo. 5) http://www.youtube.com/watch?v=HRX5j9OYrrE
– Saramago a dizer o mesmo que vos quero dizer. 6) Outros argumentos: - o voto branco ou nulo não terem qualquer "voz" - o simples facto de termos de ponderar um "voto útil" - segundo a última capa da Visão exitem 800 mil eleitores fantasmas. - as coligações que se formam após a população já ter votado, sem que tenhamos qualquer palavra nisso. Pois é. Da próxima vez pensem duas vezes antes de dizer orgulhosamente "Claro que voto pois felizmente vivemos numa democracia e não nos esqueçamos dos que lutaram para que agora sejamos livres de escolher", ou coisas do género. É preciso entender que a Democracia segue uma escala contínua e que não se resume a "estamos em Democracia", "não estamos em Democracia". Estamos ainda muito em baixo nessa escala (nós e a maioria dos países). Há caminhos a percorrer ainda e a mudança não passará pela política.
"Ninguém é mais escravo do que aquele que se julga livre sem o ser" J. Goethe ----------------------------------------------------------------------------------------- Àqueles que estiverem a ponderar um "Voto útil" ou que estejam descontentes com a política em geral... Se pondera entre branco, nulo, abstenção ou votar num partido pequeno, considere isto: BRANCO e NULO: Este tipo de voto teoricamente é uma forma de protesto, mas como sabem na prática não leva a nada pois não são contados como tal (o que é triste). No entanto, supondo que contassem, pensem comigo: Que impacto teria 50% de votos brancos? Pois nada. Que nós andamos descontentes já eles sabem bem, já todos sabemos e pensem... se vocês fossem políticos do tipo corrupto e soubessem que o povo está descontente que fariam, acham que mudariam de postura? Ou se por outro lado fossem políticos que realmente trabalhavam a sério e tentavam fazer aquilo que consideravam ser melhor para o país, mudariam alguma coisa? Não creio. Concluindo, voto branco ou nulo não ajudam a mudança alguma, e, se estiver indeciso entre ambos, vote nulo uma vez que assegura que não poderão alterar o seu voto. ABSTENÇÃO CONSCIENTE: A abstenção consciente é aquilo que as pessoas fazem mais por uma questão de orgulho próprio, por não se quererem humilhar e ser complacentes com um sistema falso e reforçar a ideia de que se vive em Democracia, quando assim não é. A abstenção, porém, acaba por favorecer os mesmos de sempre, não sendo portanto alternativa para quem não tenha isso como objectivo, além de estar associada à conotaçao de despreocupação pelos problemas do país. Se bem se lembram foi a abstenção que reelegeu o Dr. Cavaco (aquele que fica caladinho quando devia falar e que quando fala diz palha ou que "não é a ocasião oportuna para falar do assunto") VOTAR NUM PARTIDO PEQUENO (A SOLUçÃO ACERTADA): Ao votar num partido pequeno estamos a ajudá-lo a que possa ter mais deputados com voz e por outro lado ESTAMOS A PENALIZAR os grandes partidos, que perdem estes votos. Sabem o que vai ditar o resultado destas eleições? O VOTO ÚTIL. O voto no Sócrates porque “Deus me livre da Direita/ Deus me livre do menino bonitinho que só era bom para ser dirigente da JSD“ ou o voto no Paços Coelho porque “Sócrates, o mentiroso e bobo da corte dos portugueses...Jamais!!!”... Se não forem especialmente simpatizantes de algum destes partidos, peço-lhes que NÃO FAÇAM UM VOTO ÚTIL e expliquem às pessoas que não o devem fazer! Porque é uma humilhação, porque evidencia ainda mais o podre desta “democracia” em que as pessoas têm que ponderar um voto útil, e porque só vai servir para afirmar o estatuto dos mesmos de sempre, dando-lhes poder que não é mercecido, porque não foi desejado pelos eleitores. E não se preocupem, ganhe um ou outro, o efeito será praticamente o mesmo. NUNCA SE ESQUEÇAM: vocês NÃO ESTÃO SÓ A VOTAR PARA ELEGER O PARTIDO DO PODER OU O PRIMEIRO MINISTRO. Vocês estão a votar para -->ELEGER DEPUTADOS<--. Não tenham medo de votar em pequenos partidos por acharem que eles não estão preparados para governar. Eles simplesmente não irão governar! Não tenham qualquer dúvida disso! Votem PNR, votem Monárquicos, votem Verdes, votem no que quiserem...mas votem num partido pequeno! Votem naquele com quem simpatizam nem que seja um mínimo. Procurem-se informar sobre os planos eleitorais e ajam em consciência, mas nao caiam no erro de achar que o vosso voto e mesmo as eleições mudam muita coisa
Divulguem (ao menos os links).
http://www.youtube.com/watch?v=3Y3jE3B8HsE/
http://en.wikipedia.org/wiki/File:Hand_marking_ranked_ballot.JPG
--> O Voto Alternativo<-- O método actual de gestão dos resultados dos votos chama-se Método D'Hondt e favorece o bipartidarismo e a perpeptuação contínua dos mesmo no poder. O voto alternativo é, NO MÍNIMO, como deveria ser. 2) http://www.ionline.pt/conteudo/113267-islandia-o-povo-e-quem-mais-ordena-e-ja-tirou-o-pais-da-recessao /
http://www.youtube.com/watch?v=MePlswwa7FU
– A recente Revolução Silenciosa da ISLÂNDIA, aquela de que tantos de vós não ouviram falar porque simplesmente não foi divulgado na televisão. O povo da islândia uniu-se, protestou, forçaram os antigos governantes à demissão, elegeram através de uma Democracia Directa 25 representantes de entre 522 candidatos, os causadores da crise foram culpabilizados, tomaram decisões através de referendos e já conseguiram sair da recessão!... Desconfiem do que ouvem na televisão, as evidências andam aí. 3) http://www.youtube.com/watch?v=tytH0CQSsXo
–
Trailer do documentário Inside Job (que mostra como se monta uma crise económica) 4) http://www.sabado.pt/
Cronicas/Vitor-Matos/Corrupcao.aspx – Artigo da Sábado sobre a corrupção inerente ao partidarismo. 5) http://www.youtube.com/watch?v=HRX5j9OYrrE
– Saramago a dizer o mesmo que vos quero dizer. 6) Outros argumentos: - o voto branco ou nulo não terem qualquer "voz" - o simples facto de termos de ponderar um "voto útil" - segundo a última capa da Visão exitem 800 mil eleitores fantasmas. - as coligações que se formam após a população já ter votado, sem que tenhamos qualquer palavra nisso. Pois é. Da próxima vez pensem duas vezes antes de dizer orgulhosamente "Claro que voto pois felizmente vivemos numa democracia e não nos esqueçamos dos que lutaram para que agora sejamos livres de escolher", ou coisas do género. É preciso entender que a Democracia segue uma escala contínua e que não se resume a "estamos em Democracia", "não estamos em Democracia". Estamos ainda muito em baixo nessa escala (nós e a maioria dos países). Há caminhos a percorrer ainda e a mudança não passará pela política.
"Ninguém é mais escravo do que aquele que se julga livre sem o ser" J. Goethe ----------------------------------------------------------------------------------------- Àqueles que estiverem a ponderar um "Voto útil" ou que estejam descontentes com a política em geral... Se pondera entre branco, nulo, abstenção ou votar num partido pequeno, considere isto: BRANCO e NULO: Este tipo de voto teoricamente é uma forma de protesto, mas como sabem na prática não leva a nada pois não são contados como tal (o que é triste). No entanto, supondo que contassem, pensem comigo: Que impacto teria 50% de votos brancos? Pois nada. Que nós andamos descontentes já eles sabem bem, já todos sabemos e pensem... se vocês fossem políticos do tipo corrupto e soubessem que o povo está descontente que fariam, acham que mudariam de postura? Ou se por outro lado fossem políticos que realmente trabalhavam a sério e tentavam fazer aquilo que consideravam ser melhor para o país, mudariam alguma coisa? Não creio. Concluindo, voto branco ou nulo não ajudam a mudança alguma, e, se estiver indeciso entre ambos, vote nulo uma vez que assegura que não poderão alterar o seu voto. ABSTENÇÃO CONSCIENTE: A abstenção consciente é aquilo que as pessoas fazem mais por uma questão de orgulho próprio, por não se quererem humilhar e ser complacentes com um sistema falso e reforçar a ideia de que se vive em Democracia, quando assim não é. A abstenção, porém, acaba por favorecer os mesmos de sempre, não sendo portanto alternativa para quem não tenha isso como objectivo, além de estar associada à conotaçao de despreocupação pelos problemas do país. Se bem se lembram foi a abstenção que reelegeu o Dr. Cavaco (aquele que fica caladinho quando devia falar e que quando fala diz palha ou que "não é a ocasião oportuna para falar do assunto") VOTAR NUM PARTIDO PEQUENO (A SOLUçÃO ACERTADA): Ao votar num partido pequeno estamos a ajudá-lo a que possa ter mais deputados com voz e por outro lado ESTAMOS A PENALIZAR os grandes partidos, que perdem estes votos. Sabem o que vai ditar o resultado destas eleições? O VOTO ÚTIL. O voto no Sócrates porque “Deus me livre da Direita/ Deus me livre do menino bonitinho que só era bom para ser dirigente da JSD“ ou o voto no Paços Coelho porque “Sócrates, o mentiroso e bobo da corte dos portugueses...Jamais!!!”... Se não forem especialmente simpatizantes de algum destes partidos, peço-lhes que NÃO FAÇAM UM VOTO ÚTIL e expliquem às pessoas que não o devem fazer! Porque é uma humilhação, porque evidencia ainda mais o podre desta “democracia” em que as pessoas têm que ponderar um voto útil, e porque só vai servir para afirmar o estatuto dos mesmos de sempre, dando-lhes poder que não é mercecido, porque não foi desejado pelos eleitores. E não se preocupem, ganhe um ou outro, o efeito será praticamente o mesmo. NUNCA SE ESQUEÇAM: vocês NÃO ESTÃO SÓ A VOTAR PARA ELEGER O PARTIDO DO PODER OU O PRIMEIRO MINISTRO. Vocês estão a votar para -->ELEGER DEPUTADOS<--. Não tenham medo de votar em pequenos partidos por acharem que eles não estão preparados para governar. Eles simplesmente não irão governar! Não tenham qualquer dúvida disso! Votem PNR, votem Monárquicos, votem Verdes, votem no que quiserem...mas votem num partido pequeno! Votem naquele com quem simpatizam nem que seja um mínimo. Procurem-se informar sobre os planos eleitorais e ajam em consciência, mas nao caiam no erro de achar que o vosso voto e mesmo as eleições mudam muita coisa
Divulguem (ao menos os links).
NÃO, NÃO SUBSCREVO.m4v
Não, não, não subscrevo, não assino
que a pouco e pouco tudo volte ao de antes,
como se golpes, contra-golpes, intentonas
(ou inventonas - armadilhas postas
da esquerda prá direita ou desta para aquela)
não fossem mais que preparar caminho
a parlamentos e governos que
irão secretamente pôr ramos de cravos
e não de rosas fatimosas mas de cravos
na tumba do profeta em Santa Comba,
enquanto pra salvar-se a inconomia
os empresários (ai que lindo termo,
com tudo o que de teatro nele soa)
irão voltar testas de ferro do
capitalismo que se usou de Portugal
para mão-de-obra barata dentro ou fora.
Tiveram todos culpa no chegar-se a isto:
infantilmente doentes de esquerdismo
e como sempre lendo nas cartilhas
que escritas fedem doutras realidades,
incompetentes competiram em
forçar revoluções, tomar poderes e tudo
numa ânsia de cadeiras, microfones,
a terra do vizinho, a casa dos ausentes,
e em moer do povo a paciência e os olhos
num exibir-se de redondas mesas
em televisas barbas de falácia imensa.
E todos eram povo e em nome del' falavam,
ou escreviam intragáveis prosas
em que o calão barato e as ideias caras
se misturavam sem clareza alguma
(no fim das contas estilo Estado Novo
apenas traduzido num calão de insulto
ao gosto e à inteligência dos ouvintes-povo).
Prendeu-se gente a todos os pretextos,
conforme o vento, a raiva ou a denúncia,
ou simplesmente (ó manes de outro tempo)
o abocanhar patriótico dos tachos.
Paralisou-se a vida do país no engano
de que os trabalhadores não devem trabalhar
senão em agitar-se em demandar salários
a que tinham direito mas sem que
houvesse produção com que pagá-los.
Até que um dia, à beira de uma guerra
civil (palavra cómica pois que
do lume os militares seriam quem tirava
para os civis a castanhinha assada),
tudo sumiu num aborto caricato
em que quase sem sangue ou risco de infecção
parteiras clandestinas apararam
no balde da cozinha um feto inexistente:
traindo-se uns aos outros ninguém tinha
(ó machos da porrada e do cacete)
realmente posto o membro na barriga
da pátria em perna aberta e lá deixado
semente que pegasse (o tempo todo
haviam-se exibido eufóricos de nus,
às Áfricas e às Europas de Oeste e Leste).
A isto se chegou. Foi criminoso?
Nem sequer isso, ou mais do que isso um guião
do filme que as direitas desejavam,
em que como num jogo de xadrez a esquerda
iria dando passo a passo as peças todas.
É tarde e não adianta que se diga ainda
(como antes já se disse) que o povo resistiu
a ser iluminado, esclarecido, e feito
a enfiar contente a roupa já talhada.
Se muita gente reagiu violenta
(com as direitas assoprando as brasas)
é porque as lutas intestinas (termo
extremamente adequado ao caso)
dos esquerdismos competindo o permitiram.
Também não vale a pena que se lave
a roupa suja em público: já houve
suficiente lavar que todavia
(curioso ponto) nunca mostrou inteira
quanta camisa à Salazar ou cueca de Caetano
usada foi por tanto entusiasta,
devotamente adepto de continuar ao sol
(há conversões honestas, sim, ai quantos santos
não foram antes grandes pecadores).
E que fazer agora? Choro e lágrimas?
Meter avestruzmente a cabeça na areia?
Pactuar na supremíssima conversa
de conciliar a casa lusitana,
com todos aos beijinhos e aos abraços?
Ir ao jantar de gala em que o Caetano,
o Spínola, o Vasco, o Otelo e os outros,
hão-de tocar seus copos de champanhe?
Ir já fazendo a mala para exílios?
Ou preparar uma bagagem mínima
para voltar a ser-se clandestino usando
a técnica do mártir (tão trágica porque
permite a demissão de agir-se à luz do mundo,
e de intervir directamente em tudo)?
Mas como é clandestina tanta gente
que toda a gente sabe quem já seja?
Só há uma saída: a confissão
(honesta ou calculada) de que erraram todos,
e o esforço de mostrar ao povo (que
mais assustaram que educaram sempre)
quão tudo perde se vos perde a vós.
Revolução havia que fazer.
Conquistas há que não pode deixar-se
que se dissolvam no ar tecnocrata
do oportunismo à espreita de eleições.
Pode bem ser que a esquerda ainda as ganhe,
ou pode ser que as perca. Em qualquer caso,
que ao povo seja dito de uma vez
como nas suas mãos o seu destino está
e não no das sereias bem cantantes
(desde a mais alta antiguidade é conhecido
que essas senhoras são reaccionárias,
com profissão de atrair ao naufrágio
o navegante intrépido). Que a esquerda
nem grite, que está rouca, nem invente
as serenatas para que não tem jeito.
Mas firme avance, e reate os laços rotos
entre ela mesma e o povo (que não é
aqueles milhares de fiéis que se transportam
de camioneta de um lugar pró outro).
Democracia é isso: uma arte do diálogo
mesmo entre surdos. Socialismo à força
em que a democracia se realiza.
Há muito socialismo: a gente sabe,
e quem mais goste de uns que dos outros.
É tarde já para tratar do caso: agora
importa uma só coisa - defender
uma revolução que ainda não houve,
como as conquistas que chegou a haver
(mas ajustando-as francamente à lei
de uma equidade justa, rechaçando
o quanto de loucuras se incitaram
em nome de um poder que ninguém tinha).
E vamos ao que importa: refazer
um Portugal possível em que o povo
realmente mande sem que o só manejem,
e sem que a escravidão volte à socapa
entre a delícia de pagar uma hipoteca
da casa nunca nossa e o prazer
de ter um frigorifico e automóveis dois.
Ah, povo, povo, quanto te enganaram
sonhando os sonhos que desaprenderas!
E quanto te assustaram uns e outros,
com esses sonhos e com o medo deles!
E vós, políticos de ouro de lei ou borra,
guardai no bolso imagens de outras Franças,
ou de Germânias, Rússias, Cubas, outras Chinas,
ou de Estados Unidos que não crêem
que latinada hispânica mereça
mais que caudilhos com contas na Suíça.
Tomai nas vossas mãos o Portugal que tendes
tão dividido entre si mesmo. Adiante.
Com tacto e com fineza. E com esperança.
E com um perdão que há que pedir ao povo.
E vós, ó militares, para o quartel
(sem que, no entanto, vos deixeis purgar
ao ponto de não serdes o que deveis ser:
garantes de uma ordem democrática
em que a direita não consiga nunca
ditar uma ordem sem democracia).
E tu, canção-mensagem, vai e diz
o que disseste a quem quiser ouvir-te.
E se os puristas da poesia te acusarem
de seres discursiva e não galante
em graças de invenção e de linguagem,
manda-os àquela parte. Não é tempo
para tratar de poéticas agora.
Santa Bárbara, Fevereiro 1976 (aniversário de uma tentativa heróica
de conter uma noite que duraria décadas), publicado in Quarenta Anos de Servidão (1979) - Jorge de Sena
The Straight Story - Official Trailer
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Michel Surya
http://nefdesfous.free.fr/index.htm
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