"Na véspera de não partir nunca Ao menos não há que arrumar malas Nem que fazer planos em papel... Todos os dias é véspera de não partir nunca" Álvaro de Campos
terça-feira, 14 de dezembro de 2010
Melancolia
Melancolia
Os papéis falam uns com os outros
Sobre esta mesa onde a sombra cai
A lâmpada esquecida tem remorsos
Da luz que antes lhe deu que se esvai.
Nas paredes que antes quadros coloriram
Sobre papel sedoso de ramagens
Ecoam dias em que vozes riram
Jarras de cristal com flores selvagens.
Já partidos os vidros nas janelas
A glicínia sobre os muros sinuosa
Conforme o sol ondula se reclina
Ervas crescem no jardim por elas
Pois já nenhuma mão colhe sua rosa.
Tudo se abandona a ser em ruína.
Bernardo Pinto de Almeida
Hotel Spleen
Lisboa, Quetzal, 2003
A propósito de Hotel Spleen, disse Eduardo Prado Coelho:
«Bernardo Pinto de Almeida é um corredor de fundo, e algumas das melhores páginas deste livro resultam de poemas de grande extensão que se vão estruturando numa cadência de palavras e de obsessões que acabam por envolver o leitor de um modo irrecusável.»
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