"Na véspera de não partir nunca Ao menos não há que arrumar malas Nem que fazer planos em papel... Todos os dias é véspera de não partir nunca" Álvaro de Campos
segunda-feira, 20 de dezembro de 2010
crónicas - MEC
O socorro do chá
"Estamos pobres mas, se já não podemos almoçar ou jantar fora, há luxos que saem barato. O maior e o mais barato de todos é o chá.
Em Novembro tomámos o afternoon tea no mais bonito e inglês lugar do mundo onde se pode lanchar cá fora: o terraço do Reid's no Funchal. Foi mais do que perfeito, como o pretérito. Os empregados, sobretudo, são os mais escorreitos cúmplices que se pode desejar, para cometer o delicioso crime, durante uma hora ou duas, de viver bem.
Esta semana instituímos aqui em casa, dada a nossa fraqueza financeira, o hábito do chá da tarde. É às quatro horas e não às cinco, como pensam os ignorantes. O chá do Reid's, aliás, começa, correctamente, às três e meiada tarde e acaba, com ainda maior correcção, às cinco.
fomos comprar chás de de folha solta. Os ingleses serão os maiores bárbaros do chá: bebem com leite e usam água a ferver. Mas, sendo filho de mãe inglesa e pai português, não posso senão achar que a técnica e cerimónia inglesa, quando é bem feita, tem uma graça europeia que deixa intactas as tradições chinesas e japonesas.
Cem gramas de bom chá Twining's - o suficiente para vinte bules - custam três euros. Um bule dá para dez chávenas. Cada chávena de bom chá sai a 1,5 cêntimos, mais o preço do leite, que é para aí 0,5 cêntimos, dando dois cêntimos por chávena.
Comprámos três pacotes de cem gramas, pesando 300 gramas. Vão dar 600 chávenas de chá. Haverá coisa mais leve, barata e gratificante? Não, não há."
Miguel Esteves Cardoso
«Ainda ontem»
via jornal PÚBLICO de 16 Dezembro 2010
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