quinta-feira, 22 de agosto de 2013

“SÓ ENTRE NÓS”, Luís Osório

“SÓ ENTRE NÓS”, Luís Osório
Chiado Editora, 2012

«Ensinaram-me há muitos anos que um bom livro é aquele que podemos sempre abrir ao acaso, porque em qualquer página, em qualquer parágrafo, encontramos sempre aquilo que procuramos.
Por isso este livro de Luís Osório é um bom livro. Abre-se e está lá a frase que nos vai tocar, a expressão que procurávamos, a palavra que nos pode salvar o dia.
Luis Osório é jornalista. De jornal, de rádio, de televisão. Os mais velhos recordam, certamente, o “Lentes de Contacto”, que foi dos melhores programas juvenis que a televisão alguma vez apresentou.
Mais recentemente, lembramo-nos todos, com certeza, do “Zapping” e do “Portugalmente”.
Mas este livro não trata de nada dessas coisas. Ou trata de tudo.
Com prefácio de Adriano Moreira, “Só Entre Nós”—constituído por pequenas crónicas, pequenos textos de reflexão– é, muito possivelmente, dos melhores livros de auto-ajuda a que podemos recorrer neste tempo de crise.
Claro que não é, nem de perto nem de longe, aquilo que vulgarmente se entende por livro de auto-ajuda, tipo, vamos-sorrir-muito-e-dar-as-mãos-e-olhar-o-nascer-do-sol e outras tretas afins. Este é, assumidamente, um livro desencantado, talvez mesmo pessimista – mas é aí que está a sua força (“é mais fácil o pessimismo. Como é mais simples libertar a raiva “).Porque é através desse sentimento que temos de procurar um caminho e ir mais longe.
“Viver”, diz o autor logo no início, “é procurar até ao fim e com o tempo perceber que as respostas que julgávamos tão certas vão-se tornando cada vez mais escassas.”
Mas é essa procura constante que dá sentido à nossa vida: “não estamos condenados à infelicidade, pensá-lo é desistir do caminho. (…) Sei que não encontrarei a felicidade, mas é na sua perseguição que encontro o melhor de mim. Sim, talvez o nosso sentido esteja na forma como não desistimos do que é impossível— quem não desiste da luz jamais encontrará a escuridão”.
É um livro que se vai lendo. Que se vai relendo. Que se sublinha. Que pede anotações nas margens. Em que se volta atrás. Em que se podem passar páginas e voltar a elas depois.
Fala-se da vida, do envelhecimento, de solidão, de dor (“a dor e o sofrimento são um tijolo importante em todas as casas que construímos”), da morte, da perda (“Que nome dás a uma mãe ou um pai que perde um filho? Que palavras usas? Em que alfabeto o procuras?”) ,dos filhos que crescem à nossa revelia(“o ruído dos nossos filhos leva-nos quase à demência, mas o barulho da sua ausência é ensurdecedor”) Fala-se de Deus e da sua procura (“vivo Deus sem necessidade de viver a religião” Fala-se muito de amor.
Mas também se fala muito da política, das cidades, das aparentemente banalidades do dia a dia, (“Não sei cozinhar. Mudar uma lâmpada só se for das de desatarraxar. Nunca guiei um carro. Nadar só de costas e mal. Montar móveis uma absoluta utopia. Um problema no esquentador é o princípio do fim do mundo”), dos lugares comuns que inundam a nossa vida – e que bem que, às vezes, eles nos fazem…
Os textos curtos facilitam a leitura. Mas damos por nós a voltar atrás muitas vezes, e a reler o que já vamos quase sabendo de cor.
Um livro a ter à cabeceira. Porque nunca se sabe.»

ALICE VIEIRA

Sem comentários:

Enviar um comentário