sábado, 31 de agosto de 2013

TERNURA

Desvio dos teus ombros o lençol,
que é feito de ternura amarrotada,
da frescura que vem depois do sol,
quando depois do sol não vem mais nada...

Olho a roupa no chão: que tempestade!
Há restos de ternura pelo meio,
como vultos perdidos na cidade ...

onde uma tempestade sobreveio...

Começas a vestir-te, lentamente,
e é ternura também que vou vestindo,
para enfrentar lá fora aquela gente
que da nossa ternura anda sorrindo...

Mas ninguém sonha a pressa com que nós
a despimos assim que estamos sós!

David Mourão-Ferreira, in "Infinito Pessoal"

Os olhos surpreendentes de Rita



Anouar Brahem - The Astounding Eyes Of Rita (2009 - full album) from Happy together on Vimeo.

Anouar Brahem
http://vimeo.com/31297927

Anouar Brahem - Le Pas Du Chat Noir


Anouar Brahem - Le Pas Du Chat Noir (2002 - Full Album) from Happy together on Vimeo.


http://vimeo.com/31295326

quinta-feira, 29 de agosto de 2013

quinta-feira, 22 de agosto de 2013

“SÓ ENTRE NÓS”, Luís Osório

“SÓ ENTRE NÓS”, Luís Osório
Chiado Editora, 2012

«Ensinaram-me há muitos anos que um bom livro é aquele que podemos sempre abrir ao acaso, porque em qualquer página, em qualquer parágrafo, encontramos sempre aquilo que procuramos.
Por isso este livro de Luís Osório é um bom livro. Abre-se e está lá a frase que nos vai tocar, a expressão que procurávamos, a palavra que nos pode salvar o dia.
Luis Osório é jornalista. De jornal, de rádio, de televisão. Os mais velhos recordam, certamente, o “Lentes de Contacto”, que foi dos melhores programas juvenis que a televisão alguma vez apresentou.
Mais recentemente, lembramo-nos todos, com certeza, do “Zapping” e do “Portugalmente”.
Mas este livro não trata de nada dessas coisas. Ou trata de tudo.
Com prefácio de Adriano Moreira, “Só Entre Nós”—constituído por pequenas crónicas, pequenos textos de reflexão– é, muito possivelmente, dos melhores livros de auto-ajuda a que podemos recorrer neste tempo de crise.
Claro que não é, nem de perto nem de longe, aquilo que vulgarmente se entende por livro de auto-ajuda, tipo, vamos-sorrir-muito-e-dar-as-mãos-e-olhar-o-nascer-do-sol e outras tretas afins. Este é, assumidamente, um livro desencantado, talvez mesmo pessimista – mas é aí que está a sua força (“é mais fácil o pessimismo. Como é mais simples libertar a raiva “).Porque é através desse sentimento que temos de procurar um caminho e ir mais longe.
“Viver”, diz o autor logo no início, “é procurar até ao fim e com o tempo perceber que as respostas que julgávamos tão certas vão-se tornando cada vez mais escassas.”
Mas é essa procura constante que dá sentido à nossa vida: “não estamos condenados à infelicidade, pensá-lo é desistir do caminho. (…) Sei que não encontrarei a felicidade, mas é na sua perseguição que encontro o melhor de mim. Sim, talvez o nosso sentido esteja na forma como não desistimos do que é impossível— quem não desiste da luz jamais encontrará a escuridão”.
É um livro que se vai lendo. Que se vai relendo. Que se sublinha. Que pede anotações nas margens. Em que se volta atrás. Em que se podem passar páginas e voltar a elas depois.
Fala-se da vida, do envelhecimento, de solidão, de dor (“a dor e o sofrimento são um tijolo importante em todas as casas que construímos”), da morte, da perda (“Que nome dás a uma mãe ou um pai que perde um filho? Que palavras usas? Em que alfabeto o procuras?”) ,dos filhos que crescem à nossa revelia(“o ruído dos nossos filhos leva-nos quase à demência, mas o barulho da sua ausência é ensurdecedor”) Fala-se de Deus e da sua procura (“vivo Deus sem necessidade de viver a religião” Fala-se muito de amor.
Mas também se fala muito da política, das cidades, das aparentemente banalidades do dia a dia, (“Não sei cozinhar. Mudar uma lâmpada só se for das de desatarraxar. Nunca guiei um carro. Nadar só de costas e mal. Montar móveis uma absoluta utopia. Um problema no esquentador é o princípio do fim do mundo”), dos lugares comuns que inundam a nossa vida – e que bem que, às vezes, eles nos fazem…
Os textos curtos facilitam a leitura. Mas damos por nós a voltar atrás muitas vezes, e a reler o que já vamos quase sabendo de cor.
Um livro a ter à cabeceira. Porque nunca se sabe.»

ALICE VIEIRA

Missing Pieces (peças desaparecidas)

http://youtu.be/TuyR9PiZsN8

sábado, 10 de agosto de 2013

ENTREVISTA

"Deixo um texto ao meu filho a explicar quem fui"

por Luís Leal Miranda, Publicado em 04 de Fevereiro de 2010
 

Urbano Tavares Rodrigues publica aos 86 anos o mais autobiográfico dos seus romances

Fala devagar e baixinho, fechando os olhos no final das frases antes de convocar um silêncio breve. Entusiasma-se quando fala do filho de quatro anos e a sua linguagem muda para um registo quase poético -

"tem um cabelo cor de mel e aqueles olhos verdes", "é a minha obra-prima". O resto da conversa é livre de metáforas, com os pés bem assentes na terra. Tal como "Assim Se Esvai a Vida", novo livro de Urbano Tavares Rodrigues, escritor de 86 anos que afirmava em 2008 ter publicado o seu derradeiro livro.
Disse que "A Última Colina" poderia ser o seu romance final.
Já não me atrevo a dizer essas coisas, até porque tenho outro romance quase pronto. Este ano ainda quero publicar o sexto volume das obras completas.
É o seu livro mais autobiográfico. Porquê expor-se assim agora?
Comecei a escrever uma espécie de diário e a escrita soltou-se, nunca pensei que pudesse ir tão longe. A certa altura dei por mim a falar de mim como nunca falei, caiu completamente a máscara social.
Teve algumas reacções de gente que já o leu?
Algumas delas muito boas. O Mário Cláudio escreveu-me uma longa carta a dizer que teme que o livro não seja lido por muita gente, mas é uma obra com muito alcance. Outra amiga minha disse "não é dos teus livros que eu gosto mais". Eu percebo porquê: tem muitas vezes a palavra "fodido".
O protagonista da primeira parte do seu livro é um antifascista e um conquistador. Duas características que lhe são atribuídas.
Um conquistador é um homem de olhar frio que colecciona mulheres, isso eu nunca fui. O Felisberto Roxo, personagem inspirado nas minha vida, anda aos encontrões na vida e as mulheres são acasos. Às vezes é só sexo, raras vezes encontra realmente o amor. Tem, no entanto, um grande coração.
Como encara o envelhecimento?
É doloroso. Tenho um glaucoma na vista que me diminui muito a visão, só posso ler com esta luz [aponta para um candeeiro de mesa]. Agravou-se também a minha doença do coração a um ponto extremo. Felizmente ainda consigo ter vida sexual: a libido diminui mas ainda tenho desejo e prazer. E isso é bom, ajuda a passar melhor os dias.
Disse numa entrevista, há cerca de três anos, que esperava tranquilamente pela morte. Mantém essa paz?
Não, nada disso. Agora inquieta-me o meu filho [António, de quatro anos]. Penso em como lhe vou fazer falta, não sei como vai ser a vida dele sem mim. Claro que a minha mulher tem possibilidades de o sustentar, mas a vida dele sem mim assusta-me. Tive uma filha com a Maria Judite de Carvalho, dei-lhe muito carinho mas não é a mesma coisa. Agora tenho mais tempo para o ver crescer, é uma coisa impressionante: inteligentíssimo, com uma série de talentos e curiosidades. Gosta de desenhar, tem uma grande sensibilidade artística ao mesmo tempo que é óptimo a jogar à bola. Faz puzzles que eu não consigo fazer. Desmonta brinquedos, mas também estraga.
Preocupa-o como o seu filho o vai recordar?
Tenho um texto escrito já há um tempo que se chama "Meu António Querido, quando fizeres dez anos vais ler estas palavras". Ocupa uma folha e explica quem eu fui, como eu gostava que ele me visse e como eu gostava que ele fosse. Para já está tudo bem, excepto que eu sou benfiquista e ele não.
Um dos temas recorrentes deste livro, e de toda a sua obra, é a luta antifascista. Ficou ressentido com algumas pessoas. Tentou fazer ajustes de contas?
Não. Isso não está na minha natureza. Só se tivesse encontrado na rua o comandante da legião portuguesa que me esmurrou e partiu o maxilar, aí dava-lhe um soco. Fiquei-lhe com uma raiva particular. Ia a entrar para o meu carro e fui cercado, depois de um comício. Andei à pancada com eles, eles também levaram murros e pontapés. Mas depois levei, levei, levei até cair.
O seu comunismo manteve-se inquebrável?
Sempre, apesar de ter tido grandes discussões com o Cunhal, por exemplo. Disse-lhe que devíamos denunciar a tortura e as coisas que se faziam na União Soviética mas ele insistiu que não. Dizia "Urbano, nós somos nós, denunciar isso é só dar armas aos EUA, o inimigo da humanidade". Não me convenceu. Ele dizia que eu era comunista apenas de coração, e não de cabeça.
Sei que deixou as suas propriedades no Alentejo aos camponeses. Porquê?
Depois do 25 de Abril, quando começou a reforma agrária, eu e o meu irmão entregámos as terras aos trabalhadores alentejanos. Foi um gesto romântico, separei-me de uma casa da qual tinha um amor profundo.
Foi um gesto carregado de ideologia também.
Se não fosse isso era hoje um homem rico. Mas não quero saber. Fiz aquilo que achava certo e coerente com as minhas convicções.
De onde vêm essas convicções?
O meu pai foi director de jornal e deputado do partido da esquerda republicana - era o que hoje se chamaria um socialista de esquerda. Tinha um cão chamado Carmona e outro chamado Salazar para o poder insultar à vontade. Era muito amigo dos homens da Guerra de Espanha. Para além disso a minha infância no Alentejo importou: foi lá que me apaixonei pela natureza e aquele povo. Os meus primeiros amigos eram todos de lá. A pouco e pouco fui compreendendo a miséria deles, a dor, as expectativas que tinham - ou não tinham. Desde pequeno comecei a desejar uma sociedade igualitária, mas era católico nessa altura e as duas coisas estavam ligadas. Só quando deixei de abandonar o catolicismo, a minha consciência se tornou revolucionária.
"Assim Se Esvai a Vida", Urbano Tavares Rodrigues, Dom Quixote



Urbano tavares Rodrigues entrevistado por Anabela Mota Ribeiro******************* http://anabelamotaribeiro.pt/53707.html

sexta-feira, 2 de agosto de 2013

A música é capaz de reproduzir, em sua forma real, a dor que dilacera a alma e o sorriso que inebria. (-Ludwig van Beethoven)

JOSÉ AFONSO


Em louvor da desordem.
Exaltando
o vinho e os seus fermentos.
Em louvor dos motivos
e em louvor
da pura insensatez,
nos sentaremos nós ouvindo este homem,
atravessados pelo seu galope.

Como a uma criança, aconchegamos tudo aquilo que ele amou.
Tudo o que é térreo
e sujo
e sorridente,
e oferece o rosto
de chapão à luz.
Coisas que nos deslizam sob a pele disparando calor.
Regendo as linhas
fundamentais da vida.

Há um nó de caminhos onde este homem
se pôs a esconder pólvora e sementes,
calendários rurais.
Dele não pode falar-se sem que se ouça
a espantosa alegria.
Sem que de novo bata pelos sítios
o eco de um tambor.

É bem possível
que a canção vele, oculta nas cidades.
Que se incline nos nossos pensamentos
como um espelho lunar,
duro e pacífico.
E sob o seu olhar nos desloquemos
por entre a turbulência.
E dela venha um íntimo sentido
e o seu ardor nos saiba
conduzir.

Pois deste homem ficou o ofício.
Os meios.
Sabemos de que modo se levantam
as pedras sobre as pedras.
Sabemos de que modo
as aguçar.

Existe ainda
um cordão de linguagens.
Vibra teimosamente o ar, movido por sopros
e até mesmo
por fadigas.
E a sua voz empurra e alimenta essas circulações.
É o vento do sol
que permanece.

Hélia Correia

PARA JOSÉ AFONSO

o canto que se erguia
na tua voz de vento
era de sangue e oiro
e um astro insubmisso
que era menino e homem
fulgurava nas águas
entre fogos silvestres.
Cantavas para todos
os acordes da terra,
os obscuros gritos
e os delírios e as fúrias
de uma revolta justa
contra eternos vampiros.
Que imensa a aventura
da luz por entre as sombras!
A vida convertia-se
num rio incandescente
e num prodígio branco
o canto sobre os barcos!
E o desejo tão fundo
centrava-se num ponto
em que atingia o uno
e a claridade intacta.
O canto era carícia
para uma ferida extrema
que era de todos nós
na angústia insustentável.
Mas ressurgia dela
a mais fina energia
ressuscitando o ser
em plenitude de água
e de um fogo amoroso.
É já manhã cantor
e o teu canto não cessa
onde não há a morte
e o coração começa.


 António ramos Rosa

quinta-feira, 1 de agosto de 2013

Sudoku on-line

logo_.jpg O objectivo de Sudoku é  preencher uma grelha de 9x9 com os números de modo a que cada fila, coluna e grelha de 3x3 contém todos os dígitos de 1 a 9. O mesmo número não pode aparecer duas vezes em qualquer linha, coluna ou uma gralha 3x3. Clique  numa célula e use o teclado para digitar números.

Aqui:

http://sixtyandme.com/forums/pages/sudoku/