domingo, 26 de setembro de 2010

Reparar, renovar, portanto...

"Saber o que deve ser e o que não deve ser Património é uma discussão que, por si só, poderia encher todas as páginas deste livro e de vários outros volumes. Apenas iremos aflorar levemente esta questão quando discutirmos alguns casos concretos. Para já, e por uma necessidade de simplificação, apresentamos a de­finição de Património como um legado geracional e uma herança do passado que nos toca a todos, independentemente de estarmos, ou não, conscientes desse legado e da sua importância.


Numa época em que o fenómeno urbano - ou melhor dizendo, suburbano -alastrou de tal modo que passou a conter o grosso da população portuguesa, acabaram por se diluir perigosamente as referências ao que era outrora entendido como a cidade: um núcleo urbano em articulação com um mundo rural bem mais vasto. Ora, os testemunhos do passado dão Memória e Identidade a qualquer cidade, distinguindo-a das demais, mesmo quando esta cidade está inserida num território caracterizado por um indistinto contínuo urbano. Assim, quanto mais indistinta for uma cidade face ao seu território envolvente, mais o seu Património tangível e intangível - materializado geralmente no seu núcleo antigo - assume importância como elemento identitário de diferenciação.
Para promover a Memória e a Identidade da cidade, valorizando esta Herança que é o seu casco antigo, é necessário:


Reabilitar, isto é, voltar a dar utilidade ao que está sem uso, degradado ou abandonado.


Requalificar, isto é, voltar a dar qualidade de vida às pessoas que ali vivem e melhorar a face da cidade.


Porém, não é suficiente Reabilitar e Requalificar. Também é, sobretudo, ne­cessário restaurar de forma integrada, isto é, re-instaurar a vida urbana que outrora teve esse legado.
Todos sabemos quantos projectos recentes de reabilitação urbana cheios de boas intenções resultaram em falhanços, por vezes considerados incompreensí­veis pelos habitantes e até pelos próprios projectistas e seus pares. Como orga­nismo vivo que é, qualquer núcleo histórico necessita de uma nova vivência e novas funções, adaptadas à orgânica do sítio. O mero restauro dos edifícios, mesmo quando acompanhado de uma intervenção no espaço público, não é geralmente suficiente. É, pois, necessário fazer restauro urbano integrado, disciplina recente que congrega saberes de várias áreas: história da cidade e do urbanismo; restauro arquitectónico; planeamento urbano; sociologia, economia, turismo, mobilidade, etc."

in: CONSERVAÇÃO URBANA E TERRITORIAL INTEGRADA - Reflexões sobre salvaguarda, reabilitação e gestão de centros históricos em Portugal. Livros Hosrizonte, Lisboa, 2009.


A CONSERVAÇÃO URBANA E TERRITORIAL INTEGRADA
DEFINIÇÃO E ÂMBITO, COMPONENTES DE FORMAÇÃO E SITUAÇÃO EM PORTUGAL

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Nuvens correndo num rio


Nuvens correndo num rio
Quem sabe onde vão parar?
Fantasma do meu navio
Não corras, vai devagar!


Vais por caminhos de bruma
Que são caminhos de olvido.
Não queiras, ó meu navio,
Ser um navio perdido.


Sonhos içados ao vento
Querem estrelas varejar!
Velas do meu pensamento
Aonde me quereis levar?


Não corras, ó meu navio
Navega mais devagar,
Que nuvens correndo em rio,
Quem sabe onde vão parar?


Que este destino em que venho
É uma troça tão triste;
Um navio que não tenho
Num rio que não existe.


Natália Correia

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