sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Tony Judt

«Em suma, a necessidade prática de Estados fortes e governos intervencionistas é indiscutível. Mas ninguém está a ‘repensar’ o Estado. Continua a haver uma grande relutância em defender o setor público com base no interesse coletivo ou no princípio. É impressionante que numa série de eleições europeias a seguir a uma desintegração financeira os partidos sociais-democratas tenham tido invariavelmente maus resultados; apesar da derrocada do mercado, eles revelaram-se manifestamente incapazes de estar à altura da ocasião. Se quiser ser novamente levada a sério, a esquerda tem de encontrar uma voz. Há imenso com que estar zangado: desigualdades crescentes de riqueza e oportunidade; injustiças de classe e casta; exploração económica interna e no estrangeiro; corrupção, dinheiro e privilégio a obstruírem as artérias da democracia. Mas já não bastará identificar os defeitos do ‘sistema’ e bater em retirada, ao género de Pilatos: indiferente às consequências. O exibicionismo retórico irresponsável das décadas passadas não foi muito útil à esquerda. (…) Toda a mudança é perturbadora. Vimos que o espectro do terrorismo é suficiente para lançar na desordem democracias estáveis. A mudança climática irá ter consequências ainda mais dramáticas. Muitas pessoas voltarão a depender dos recursos do Estado. Quererão que os seus líderes e representantes políticos os protejam: uma vez mais as sociedades abertas serão pressionadas a fechar-se sobre si, sacrificando a liberdade pela ‘segurança’. A escolha já não será entre Estado e mercado, mas entre dois tipos de Estado. Cabe-nos portanto reimaginar o papel do governo. Se não o fizermos, outros o farão por nós.» Tony Judt, Um Tratado Sobre os Nossos Atuais Descontentamentos


 Lido em http://adignidadedadiferenca.blogs.sapo.pt/

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