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Em Casa começa na rua, no cenário da Grande Exposição de 1850 que deixaria no Hyde Park uns portões muito cinematográficos, logo ali na entrada dos Jardins de Kensington. Os portões pertenciam a uma enorme estrutura em ferro, projectada por Joseph Paxton para albergar a exposição, e quando se chega ao fim das páginas dedicadas a este assunto aparentemente tão trivial, já é claro que Bryson não nos poupará à exibição da sua infinita sabedoria sobre todos os temas que podemos relacionar, ainda que indirectamente, com o conceito de casa. Percorrendo as várias divisões da reitoria, tropeça-se nos mistérios revelados na escavação que descobriu Skara Brae, um povoado com cinco mil anos, na relação entre os comentários maliciosos de povos estrangeiros e a aquisição de hábitos de higiene nunca antes imaginados ou na espantosa produtividade científica e literária dos clérigos anglicanos do século XIX, proporcionalmente inversa à sua vocação para guiar rebanhos de fiéis mas à qual devemos vários tratados e algumas descobertas matemáticas.
Numa incompreensível operação de marketing desajustada do seu conteúdo, Em Casa está a ser vendido como uma ‘breve história da vida privada’ quando, na verdade, é uma história sobre quase tudo, ainda por cima em registo flâneur, permitindo ao leitor saltitar entre temas com a velocidade de um browser, mas sem perder a autoridade dignificante de um grosso volume impresso. Está bem, não há referências à crise do Euro, mas de resto, está lá tudo.
Sara Figueiredo Costa
(publicado na Ler, nº108, Dez.2011)
via
http://cadeiraovoltaire.wordpress.com/2012/01/03/em-casa-breve-historia-da-vida-privada/
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